11 agosto 2006
Memória.
É comum afirmar-se que a sociedade civil portuguesa não é activa, é complacente e conformista, especialmente com determinadas matérias que, não afectando o dia-a-dia de cada uma das pessoas, assumem importância capital quando encarada a sociedade como um todo e um todo que se quer evolutivo. É, aliás, o próprio Estado que, apesar de (ou porque) conhecedor de tal inércia e imaturidade, remete à sociedade civil a discussão e resolução de problemas que lhe compete abordar e solucionar.
A memória, enquanto conhecimento da História, é um aspecto fundamental para a evolução de uma sociedade, no sentido do aperfeiçoamento das diversas formas de relacionamento entre os Homens, especialmente entre os que democraticamente estão investidos no poder e aqueles que a ele estão sujeitos. A inscrição da história na memória colectiva, contudo, combate, hoje em dia, quer com resistências psicológicas (através das quais determinados temas se assumem como verdadeiros tabus), quer com pressões de ordem económica e financeira, em nome das quais rapidamente se revisionam acontecimentos, pessoas e espaços.
Um dos meios de serenar essa apetência para o revisionismo passa, necessariamente, pelo reconhecimento da história, e por uma sua leitura com olhos de quem se insere numa sociedade democrática e livre, sujeita a um Estado-de-Direito reconhecedor e promotor dos Direitos do Homem em todas as suas vertentes.
A iniciativa do movimento Não Apaguem a Memória não pode passar despercebida como um sério empenho no sentido de dar finalmente face (e reconhecimento público) à violência de toda a ordem que significou para inúmeras portuguesas e inúmeros portugueses a mão repressiva do regime ditatorial que vigorou entre nós até 1974.
Não tendo o significado amplo da proposta do Governo espanhol no que respeita à Guerra Civil e à ditadura de Franco, não deixa de ser um esforço da sociedade civil em promover a acção governativa no sentido de inscrever na colectividade a memória histórica de tais acontecimentos, retirando-os ao mesmo tempo da clandestinidade onde, muito mais facilmente, se encontram à mercê de quem, por um motivo ou outro, os pretenda manipular no seu significado.
É, por isso, de louvar.