03 agosto 2006
Israel e o anti-semitismo
Agora que o mundo deixou de estar compartimentado em blocos muito nítidos em que só nos competia alinhar por um ou por outro dos blocos em confronto e as ideologias estavam perfeitamente delimitadas, facilitando-nos a tarefa de pensarmos pela nossa cabeça, bastando que nos alistássemos numa ou noutra corrente ideológica, tornou-se mais difícil de tomar posições e de buscar uma orientação, cada qual navegando às apalpadelas, sem instrumentos de navegação conhecidos, sem um rumo certo e sem um porto a que possamos demandar refúgio. É por isso que são díspares, contraditórias e por vezes surpreendentes as posições que cada um toma, sobretudo se as compararmos com as arrumadas e previsíveis posições de antigamente, as quais se encaixavam perfeitamente nas casas de um xadrez conhecido.
Não falta, todavia, quem, sentindo o desconforto da ausência de uma bipartição clara, se aventure por caminhos antitéticos e procure nas arrumações antagónicas a explicação para certas tomadas de posição. Aos velhos maniqueísmos, sucederam os novos maniqueísmos. Assim é que, dentro desse espírito, não se pode condenar Israel pelas acções de guerra que tem conduzido no Sul do Líbano, sem que se seja suspeito ou mesmo apodado de anti-semita ou anti-americano. É uma espécie de argumento ad terrorem. Através dele, procura-se «arrumar» o recalcitrante, fazendo-lhe rolar sobre o cachaço todo o peso da sinistra memória do Holocausto e toda a acção dos terroristas fundamentalistas, nomeadamente o Hamas e o Hezbollah.
Desloca-se a discussão para o plano da agressão e da culpa. E não é preciso analisar causas, nem consequências, por muito pesadas e devastadoras que estas sejam. Um indivíduo, se ergue um dedo contra Israel, está visto que é anti-semita e bandeia-se com os terroristas fundamentalistas. Mas não se perde um segundo para pensar em como esta política (de Israel e dos Estados Unidos, pois então!) só tem levado ao alastramento e aprofundamento do fundamentalismo na região. Foi ela que entronizou no poder o Hamas e é ela que está a concitar um apoio em larga escala ao Hezbollah.
O que se tem feito ao longo destes anos não é outra coisa senão criar monstros, para depois se arregimentar a força brutal contra esses monstros, sendo sempre as populações indefesas que sofrem o grosso dos ataques mortíferos. O mal tem de ser arrancado pela raiz, não é? Que importa que se liquidem muitas árvores boas? Essa liquidação é um mal necessário, proclamam os cínicos adeptos da guerra. Às vezes, matizam esta crueza com uma desculpa que, provindo de uma das partes, careceria de prova, mas que, em todo o caso, se dispensa. É ela que os terroristas se mesclam de propósito com os civis, sendo estes apanhados por tabela, mas inocentemente por parte de quem conduz as operações de «limpeza». Chama-se a isso, em direito, um facto público e notório, que dispensa a prova correspondente.
Mas, com isto, esqueci-me de falar nos roquetes do Hezbollah, de fabrico iraniano, os quais também têm morto alguns civis do lado israelita. Pois é! E a prosa que já vai tão comprida! Depois, já sei, vão dizer que eu não fui isento e vão pegar nisto como uma prova do meu anti-semitismo.
Não falta, todavia, quem, sentindo o desconforto da ausência de uma bipartição clara, se aventure por caminhos antitéticos e procure nas arrumações antagónicas a explicação para certas tomadas de posição. Aos velhos maniqueísmos, sucederam os novos maniqueísmos. Assim é que, dentro desse espírito, não se pode condenar Israel pelas acções de guerra que tem conduzido no Sul do Líbano, sem que se seja suspeito ou mesmo apodado de anti-semita ou anti-americano. É uma espécie de argumento ad terrorem. Através dele, procura-se «arrumar» o recalcitrante, fazendo-lhe rolar sobre o cachaço todo o peso da sinistra memória do Holocausto e toda a acção dos terroristas fundamentalistas, nomeadamente o Hamas e o Hezbollah.
Desloca-se a discussão para o plano da agressão e da culpa. E não é preciso analisar causas, nem consequências, por muito pesadas e devastadoras que estas sejam. Um indivíduo, se ergue um dedo contra Israel, está visto que é anti-semita e bandeia-se com os terroristas fundamentalistas. Mas não se perde um segundo para pensar em como esta política (de Israel e dos Estados Unidos, pois então!) só tem levado ao alastramento e aprofundamento do fundamentalismo na região. Foi ela que entronizou no poder o Hamas e é ela que está a concitar um apoio em larga escala ao Hezbollah.
O que se tem feito ao longo destes anos não é outra coisa senão criar monstros, para depois se arregimentar a força brutal contra esses monstros, sendo sempre as populações indefesas que sofrem o grosso dos ataques mortíferos. O mal tem de ser arrancado pela raiz, não é? Que importa que se liquidem muitas árvores boas? Essa liquidação é um mal necessário, proclamam os cínicos adeptos da guerra. Às vezes, matizam esta crueza com uma desculpa que, provindo de uma das partes, careceria de prova, mas que, em todo o caso, se dispensa. É ela que os terroristas se mesclam de propósito com os civis, sendo estes apanhados por tabela, mas inocentemente por parte de quem conduz as operações de «limpeza». Chama-se a isso, em direito, um facto público e notório, que dispensa a prova correspondente.
Mas, com isto, esqueci-me de falar nos roquetes do Hezbollah, de fabrico iraniano, os quais também têm morto alguns civis do lado israelita. Pois é! E a prosa que já vai tão comprida! Depois, já sei, vão dizer que eu não fui isento e vão pegar nisto como uma prova do meu anti-semitismo.