03 dezembro 2006

 

A justiça, segundo o padre Manuel Bernardes

Às vezes, também tomo desses “caldos suculentos de Bernardes e Vieira” de que falava Aquilino. Principalmente ao domingo, que, para além de dia santificado, também é de comidas mais substanciais, como o tradicional cozido à portuguesa.
De Bernardes, tenho cinco compactos volumes da “Nova Floresta” numa edição da Lello, com prefácio de Sampaio Bruno, que adquiri há cerca de uns três anos por uma pipa de massa. É do 1.º tomo que colho esta dissertação sobre a justiça:

“Que dizem as Escrituras? Que não queiramos ser mui justos (diz o “Eclesiastes”). “Nolli esse justus multum”. E, pois se o ser justo é bom, como não é bom o ser mui justo? Porque neste caso a sobra vem a ser míngua, e o excessivo se converteu em diminuto. (…)
⌠A⌡”equidade, pois que não é outra coisa que o ditame da razão natural na mente ou consciência do bom varão, obrigado a mitigar a lei quando é necessário, deve o juiz ter diante dos olhos, todas as vezes que condena ou absolve, e no princípio de seu ofício deve jurar de guardá-la, e por ela há-de interpretar os pactos, e por amor dela se há-de afastar às vezes do que pede de si a natureza dos contratos ou o teor das verbas do testador, e também outras vezes desprezar as solenidades que o direito pedia, e, finalmente, há-de fazer conta que a justiça (como discretamente disse um douto) é régua, não de bronze nem de chumbo, mas de madeira; não de bronze, porque este nunca dá de si nem cede; não de chumbo, porque também amolga facilmente e assim amolgado fica; mas de madeira, porque nas ocasiões que é necessário a verga e se arqueia e logo por si torna a endireitar-se”.





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