10 maio 2007

 

Ainda o caso Madeleine

O repórter actualmente destacado pela RTP em Londres – Esteves Martins – reportou o sentimento das autoridades policiais inglesas a propósito do caso Madeleine. Segundo a informação transmitida, a nossa polícia actuou sem a celeridade devida nestes casos e demonstrando pouca eficiência. Em suma: a nossa polícia “não presta” (termo usado pelo repórter).
É evidente que este sentimento tem de ser encarado com as devidas reservas, eivado como pode estar por uma compreensível sensibilidade especial em relação a um crime tão chocante praticado sobre uma compatriota de quem proclama tal sentimento e por uma possível e acaso subsistente “superioridade” britânica em relação a um país periférico, tradicional e oficialmente seu aliado, sobretudo para as vantagens conseguidas à sombra disso. Todavia, sem prejuízo de me parecer injusta tal apreciação neste caso, serão, porventura, de rever, numa época em que a criminalidade internacional e global aproveita as nossas fragilidades, os esquemas de trabalho da nossa polícia (e não me refiro especificamente à PJ, cujos progressos técnicos e dedicação ao serviço não ponho em causa, mas às várias entidades policiais e sua articulação) e sobretudo os meios materiais postos à sua disposição, que têm sido, como se sabe, objecto de frequente contestação.
Uma outra questão é a do relacionamento da polícia com a comunicação social. Vários polícias britânicos que aqui afluíram puseram em causa a deficiência de informação, contrapondo o que se passa no Reino Unido, em que a Polícia desenvolve estratégias mais abertas de relacionamento com os “media”. Ora, é um facto que a nossa Polícia é demasiado avara nas informações que dá, porque me parece ter uma concepção muito limitada e restritiva do que pode ser transmitido à comunicação social. Sendo o segredo de justiça muito apertado entre nós, gerou-se, para além disso, uma mentalidade muito tacanha e timorata a tal respeito, que se traduz numa inibição praticamente total de informação e esclarecimento. Não sei se foi esta a situação no caso presente – porque havia aqui interesses da vítima a acautelar de forma muito intensa, para além de possíveis estratégias da PJ para controlar a informação em proveito da investigação – mas é isto que se verifica de modo geral.





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