13 novembro 2007
Uma casa vazia em Viena
Uma recente visita a Viena proporcionou-me uma imagem incisiva sobre a irre-parável ferida que os nazis produziram na Europa.
Corri mais ou menos alvoroçado à casa-museu de Freud: Berggasse, 19.
Eu sabia, evidentemente, que ele tinha sido obrigado a sair de Viena para Lon-dres em 1938 e que os nazis até tinham sido “simpáticos”, deixando-o levar tudo o que quis.
Mas é terrível entrar e encontrar a casa vazia. A filha Anna não voltou para Vie-na depois da guerra e os austríacos só em 1971 recuperaram a casa para museu. Anna Freud só deixou que voltassem para Viena os móveis da sala de espera do consultório, que está reconstituída como era originalmente. O resto está vazio. Ou melhor, ocupado por uma exposição permanente sobre a vida e obra de Freud.
Este vazio é arrepiante. Ali está o espaço onde Freud deu consulta e escreveu infatigavelmente a sua obra desde 1891 a 1938, quase toda a sua obra, ali nasceu a psi-canálise, a mais enigmática das ciências, a que nos abre os mais profundos alicerces do nosso ser.
Freud foi perseguido porque era judeu e porque era um “céptico” para os nazis. Mas se a sua obra não morreu, nem estava ao alcance dos nazis destruí-la, eles consegui-ram na realidade, ao exterminar as elites judaicas da Europa, ferir indelevelmente a cul-tura europeia, de que o judaísmo (religioso e laico) era uma componente imprescindível (na ciência, na música, na literatura, na filosofia, etc.).
A Europa sem os judeus não é a mesma. (E os judeus sem a Europa também são outros: nos EUA enriquecem, em Israel o melhor que até hoje produziram foram gene-rais e mais generais, que rivalizam no seu currículo segundo o número de palestinianos abatidos e territórios alheios ocupados.)
A “alma” da Europa é uma casa vazia em Viena.
A nova Europa, a de Bruxelas, nascida do Mercado Comum, reconvertida em Comunidade Económica e depois em União Europeia, não é mais do que um espaço geográfico com instituições comuns.
Corri mais ou menos alvoroçado à casa-museu de Freud: Berggasse, 19.
Eu sabia, evidentemente, que ele tinha sido obrigado a sair de Viena para Lon-dres em 1938 e que os nazis até tinham sido “simpáticos”, deixando-o levar tudo o que quis.
Mas é terrível entrar e encontrar a casa vazia. A filha Anna não voltou para Vie-na depois da guerra e os austríacos só em 1971 recuperaram a casa para museu. Anna Freud só deixou que voltassem para Viena os móveis da sala de espera do consultório, que está reconstituída como era originalmente. O resto está vazio. Ou melhor, ocupado por uma exposição permanente sobre a vida e obra de Freud.
Este vazio é arrepiante. Ali está o espaço onde Freud deu consulta e escreveu infatigavelmente a sua obra desde 1891 a 1938, quase toda a sua obra, ali nasceu a psi-canálise, a mais enigmática das ciências, a que nos abre os mais profundos alicerces do nosso ser.
Freud foi perseguido porque era judeu e porque era um “céptico” para os nazis. Mas se a sua obra não morreu, nem estava ao alcance dos nazis destruí-la, eles consegui-ram na realidade, ao exterminar as elites judaicas da Europa, ferir indelevelmente a cul-tura europeia, de que o judaísmo (religioso e laico) era uma componente imprescindível (na ciência, na música, na literatura, na filosofia, etc.).
A Europa sem os judeus não é a mesma. (E os judeus sem a Europa também são outros: nos EUA enriquecem, em Israel o melhor que até hoje produziram foram gene-rais e mais generais, que rivalizam no seu currículo segundo o número de palestinianos abatidos e territórios alheios ocupados.)
A “alma” da Europa é uma casa vazia em Viena.
A nova Europa, a de Bruxelas, nascida do Mercado Comum, reconvertida em Comunidade Económica e depois em União Europeia, não é mais do que um espaço geográfico com instituições comuns.