18 julho 2008
Bem hajam!
A propósito das armas que andam para aí em más mãos e de que ainda hoje falava o “Público” em 1.ª página, a TSF dedicou o seu habitual debate ao tema. Nem sempre este estar na crista da onda do acontecimento ajuda à reflexão. Pelo contrário. Mas adiante. Ouvi meia dúzia dos debatentes ou debutantes (não sei), e confirmei que a lengalenga é sempre a mesma. A tónica geral é esta: a criminalidade tem rédea solta, os criminosos têm campo livre e uma grande parte são ciganos e africanos (um dos falantes, muito objectivamente, fez questão de frisar que nem era “racista”), os cidadãos estão desprotegidos, a justiça portuguesa é muito fraca, como toda a gente sabe e os polícias, coitados, não têm meios e correm riscos em meterem-se nesses bairros onde “eles” vivem. Os polícias, aliás, até têm boa vontade e, às vezes, prendem alguns desses perigosos criminosos, mas os juízes soltam-nos logo, mal podem. Um dos faladores até aventou que, enquanto um juiz não fosse atacado, as coisas não melhoravam. E outro disse que, face a esta falta de defesa do cidadão comum por parte das instituições que os deviam defender, a solução era o cidadão comum andar armado. Depois, não se admirassem por haver tantas armas clandestinas. Suponho que este cidadão quereria referir-se, neste particular, às armas clandestinas em boas mãos. As outras, aliás sofisticadas, eram as dos ciganos, africanos (salvo o respeito devido a todas as raças) e de todos os criminosos que, vivendo em bairros miseráveis, tinham carros de luxo à porta das barracas e dinheiro para comprar as ditas armas. Não sei é como este cidadão pensa defender-se com a sua armazinha de algibeira (porque não é criminoso, não vive em barracas, não tem carros de luxo a reluzir à porta, não é cigano nem africano e não tem dinheiro para comprar as ditas armas sofisticadas) de armamento tão poderoso. Mas adiante. O que é certo é que se está mesmo a ver o tipo de ideias que para aí grassa em gente honesta, trabalhadora e cumpridora dos seus deveres. Este peculiar desenvolvimento de consciência cívica deve-se, em grande parte, se não erro, ao profícuo trabalho de descrédito (e não só ao mau desempenho dos profissionais respectivos) de certas instituições fundamentais em que muitos responsáveis (também da comunicação social, é claro) se têm empenhado. Bem hajam!