09 setembro 2009

 

Uma forma encapotada de censura?

Não acompanhava, a não ser fortuitamente, o Jornal Nacional da TVI das célebres sextas-feiras, em que campeava Manuela Moura Guedes. Quando chegava a casa, já ele ia adiantado e só apanhava umas imagens, umas frases, uma ou outra afirmação mais contundente ou mais insólita. Também não apreciava por aí além o estilo da apresentadora, embora conhecesse pessoas muito respeitáveis, muito defensoras de um jornalismo nos antípodas do que ela protagonizava, que não perdiam uma das suas emissões. Vi por acaso a parte final daquela «contenda» com o bastonário da Ordem dos Advogados, em que este acabou por zurzir Manuela Moura Guedes da forma mais frontal e violenta que alguma vez se terá visto em televisão, apodando de mau jornalismo ou mesmo de antijornalismo o que ela praticava.
De facto, podia pôr-se em causa o exercício a que ela se votava semanalmente, considerando que o que ela fazia não era jornalismo. Isso, porém, era a concepção jornalística dos que assim pensavam, partindo do princípio que era séria, de um ponto de vista dos princípios que enformam tal actividade, essa crítica, e não afectada de preconceitos ideológicos ou, pior do que isso, político-partidários. Sensacionalista, sim, acho eu que o era. E também claramente de oposição ao governo e particularmente ao primeiro-ministro. E aí é que me parece que bate o ponto. Os políticos atingidos e os partidários da governação sentiam-se muito incomodados. O primeiro-ministro nunca escondeu o seu ressentimento em relação ao Jornal Nacional (não digo se com justa razão ou não) e chegou a formular queixa-crime contra a sua apresentadora. Por várias vezes se falou na tentativa de calar o programa, através de vias mais ou menos retorcidas e camufladas, de forma a dar-lhe uma aparência de legalidade. Porém, o pudor parece ter-se sempre sobreposto a esse desejo sub-reptício de censura. Do que ninguém estava à espera era que esse pudor acabasse por derreter-se precisamente no esquentado ambiente da campanha eleitoral e precisamente através de uma dessas enviesadas operações que, por muito que tentem esconder, deixam a descoberto uma extensa zona de suspeita que nenhuma retórica é capaz de explicar.
Jornalismo sensacionalista é o que mais há nos tempos que correm, e atropelo a normas deontológicas e ataques pessoais, em vez de ideias. Mas há meios para reagir contra esses destemperos, sem ser a censura. E hoje há formas refinadas de censura, que querem passar por não censura. Por exemplo, uma remodelação técnica.
Uma coisa é certa: o jornalismo televisivo é muito monocolor. Fazem falta programas que partam a louça, o que não quer dizer que o jornal de Manuela Moura Guedes fosse um bom exemplo, mas pior do que isso é tê-lo encerrado, e logo numa altura destas.





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