18 agosto 2010
Uma fatalidade
A primeira vez que escrevi sobre a praga dos incêndios foi pelo menos há duas dezenas de anos. Era um artigo publicado na última página do “Jornal de Notícias” e tendo um título que roubei a Júlio Cortázar: Todos os fogos o fogo. Depois disso, quando comecei a escrever regularmente nesse jornal, aí pelos fins de 1992, durante mais de uma dezena de anos escrevi numerosas crónicas sobre a cruel devastação do país pelos fogos de verão. Fui sempre movido pela indignação que uma tal destruição sistemática me causava e pelo sentimento agónico de ver o país reduzido a cinzas – este país que eu sempre gostei de percorrer de lés-a-lés, esquadrinhando-lhe o património artístico, cultural e paisagístico, levando como companhia autores que me ensinavam a desvendar-lhe os encantos: Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Teixeira Gomes, Manuel Mendes, Aquilino Ribeiro, Teixeira de Pascoais, Miguel Torga, José Saramago, entre tantos outros, para além de guias de todas as espécies, a começar pelo Guia de Portugal, nunca igualado, os actuais guias da “Presença” e até os guias do “Expresso”. Não havia nada que me desolasse tanto como ver o nosso património florestal consumido de ano para ano, reduzido a um cenário lunar. Quantas vezes passava pela chamadas áreas protegidas da Serra do Gerês e da Serra da Estrela e perguntava a mim mesmo até quando o fogo as pouparia. Pois aí estão consumidas impiedosamente pelas chamas. E já não é a primeira vez que os incêndios as têm assediado.
Agora já não passeio para nem me chatear. Também deixei de me indignar com os fogos. Quero lá saber! É que, de tão repetidos ao longo dos anos (há pelo menos um quarto de século que o país arde desalmadamente), eles tornaram-se uma fatalidade. Ora, não se luta contra a fatalidade. Acabamos por nos resignar a ela. Este país é uma fatalidade incendiária. Este país é, simplesmente, uma fatalidade. Um quarto de século é muito tempo. Já se podiam ter arranjado soluções. Já se criou um serviço cívico que foi extinto sem nunca ter passado de letra morta. Há imensas pessoas desempregadas que recebem subsídios e que podiam ser úteis nessa área, nos vários níveis problemáticos que ela apresenta. Mas nada. De ano para ano apresentam-se sugestões, elaboram-se sistemas mais ou menos complexos, multiplicam-se os meios, e fica-se sempre com a esperança de que, finalmente o país vai deixar de arder, pelo menos, da forma desaforada que tem ardido. Qual quê? O país arde, arde. Pois que arda! É uma fatalidade.
PS – Afinal, este escrito é ainda a prova da minha indignação. De contrário, não escrevia nem sequer uma linha. É isso que vou deixar de fazer.
Agora já não passeio para nem me chatear. Também deixei de me indignar com os fogos. Quero lá saber! É que, de tão repetidos ao longo dos anos (há pelo menos um quarto de século que o país arde desalmadamente), eles tornaram-se uma fatalidade. Ora, não se luta contra a fatalidade. Acabamos por nos resignar a ela. Este país é uma fatalidade incendiária. Este país é, simplesmente, uma fatalidade. Um quarto de século é muito tempo. Já se podiam ter arranjado soluções. Já se criou um serviço cívico que foi extinto sem nunca ter passado de letra morta. Há imensas pessoas desempregadas que recebem subsídios e que podiam ser úteis nessa área, nos vários níveis problemáticos que ela apresenta. Mas nada. De ano para ano apresentam-se sugestões, elaboram-se sistemas mais ou menos complexos, multiplicam-se os meios, e fica-se sempre com a esperança de que, finalmente o país vai deixar de arder, pelo menos, da forma desaforada que tem ardido. Qual quê? O país arde, arde. Pois que arda! É uma fatalidade.
PS – Afinal, este escrito é ainda a prova da minha indignação. De contrário, não escrevia nem sequer uma linha. É isso que vou deixar de fazer.