05 novembro 2010

 

A crise como forma de vida

Slavov Zizek é um dos pensadores actuais, situado no campo da esquerda, mais lidos e respeitados. Tem uma cultura verdadeiramente espantosa e uma forma de abordar os assuntos profundamente original, encadeando-os numa multiplicidade de perspectivas, por vezes quase labiríntica, que vai da filosofia à política, da economia à sociologia, dos autores clássicos aos mais modernos, da literatura ao cinema, da situação mais comezinha à mais elaborada abstracção, da posição materialista mais radical à especulação quase metafísica, mas apresentando um sistema coerente que alicerça todo o edifício e confere unidade à sua forma de exposição, na aparência tão divagante.
No passado dia 23 de Outubro, um artigo seu de opinião, intitulado “Barbárie com rosto humano” apareceu traduzido no El País.
Pela flagrante actualidade, dele extracto esta passagem:
Após décadas de Estado de bem-estar – ou da sua promessa – quando os cortes financeiros se limitavam a breves períodos e se aplicavam na perspectiva de que as coisas voltariam rapidamente à normalidade, entramos agora numa nova época em que a crise, ou melhor dito, estado de emergência económica que recorre a toda a sorte de medidas de austeridade, é permanente e se converte numa constante, em pura e simples forma de vida. Depois da desintegração dos regimes comunistas em 1990, entramos numa nova era em que a forma predominante de exercício estatal se converteu numa despolitizada administração técnica que se dedica a coordenar os interesses.





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