23 novembro 2010
A Nata dos Países entre nós
Onde se fala da Cimeira e de como subimos aos píncaros do prestígio e da fama mundiais
Refiro-me à Cimeira que teve lugar no nosso país. Ela foi uma oportunidade única de nós nos projectarmos para cima, agora que andamos tão em baixo por causa da crise. Tivemos connosco a nata dos países que lideram o grande projecto da defesa comum transatlântica e que visam encarar de uma nova forma os novos desafios que ameaçam a segurança global, em que o perigo espreita por todos os lados e a ameaça pode surgir do mais obscuro recanto da Terra (ia a dizer, da mais recôndita choça situada nas mais inóspitas montanhas dos confins do nosso planeta). Mas isso é um outro problema, envolvendo uma complexa estratégia e novas formas de encarar a nossa missão civilizadora (os deste lado do Ocidente e de todos aqueles que se queiram agregar ao nosso projecto, cumpridos, evidentemente, determinados requisitos democráticos).
O que eu quero salientar aqui é a nossa honrosa função nesta Cimeira. Como disse, tivemos o privilégio ímpar de sermos os anfitriões dos altíssimos representantes dos países que constituem a nata da mais avançada aliança do mundo. Foi emocionante termos connosco o presidente mais poderoso do nosso planeta, vermo-lo sair do seu robustíssimo carro à prova de todas as balas, vindo especialmente do seu país de origem, e juntar-se ao nosso presidente e ambos apertarem-se as mãos no mais sacudido, demorado e fenomenal shake hands de que há memória.
Tivemos também connosco outras altíssimas personalidades (a Sra. Ângela Merkel em pessoa, alta, loira, avantajada de seu porte e não menos de sua influência, o Sr. Sarkozi, que dizem ser o enfant terrible do país dos Gallos, a cosmopolita Sra. Hillary Clinton, cujo penteado suscitou, parece, alguma especulação entre experts nessa matéria, e também as esposas ou os maridos dessas e de outras personalidades, com destaque para Miss Carla Bruni, os quais tiveram uma recepção à parte e um programa de entretenimento cuidadosamente preparado).
Destaquem-se também, fora da aliança da tal nata de países, mas pretendendo-se atraí-lo a ela, o Sr. Dmitri Medevedov, do grande país dos czares, e o pitoresco Sr. Hamid Karzai, que veio de Cabul com o seu barrete e a sua barbicha grisalha. Gente da mais variada proveniência e da mais variegada cultura, numa bela simbologia de unidade, cujo lema se pretende inscrever no futuro.
Foi bonito, grandioso e soberbo. Para o nosso ego foi uma coisa boa, muito boa, porque provámos que, apesar de pequenos, somos grandes; apesar de pobres e nas “lonas” (perdoe-se-me este termo tão prosaico, mas sugestivo), somos mãos largas e cosmopolitas a receber. Sabemos merecer o nosso passado épico. Só foi pena que os blindados não tivessem chegado a tempo para uma exibição de que tanto se esperava. E que as terríveis manifestações para que os nossos polícias se tinham aturadamente preparado não tivessem verdadeiramente chegado a existir. Mas até nisso somos um povo providencial, porque os tardeiros blindados iriam fazer sua falta.
Laus Deo.
Jonathan Swift (1665 – 1745)