03 outubro 2011
Acusem a Europa
Acusem a Europa!
28 de Setembro de 2011
por Filipe R. Costa
Editor Executivo CutTheSpread.com
Durante os últimos dias tenho lido e ouvido muitos comentários a pressionar a UE a fazer algo de concreto para conter o problema da dívida grega e evitar o contágio de uma crise financeira. Segundo várias fontes, a Europa é responsável pela volatilidade que tem assombrado os mercados financeiros e pela queda a que temos vindo a assistir.
Quando ouço tais comentários, uma mistura de sentimentos cresce dentro de mim. Por um lado, fico desapontado com a forma como políticos e entidades públicas têm lidado com a economia, priorizando os seus interesses acima dos de quem lhes conferiu os poderes, e dessa forma contribuírem para um agravamento generalizado das condições económicas. Por outro lado esses comentários acusatórios dão-me vontade de rir.
Como todos se lembram, a crise do "subprime" começou nos EUA, antes de expandir para todo o mundo. Muitos activos financeiros foram "reembalados" em pacotes embelezados que os transformavam em algo com melhor aspecto e vendidos a Wall Street e à banca a preços muito acima do seu valor. As agências de notação de crédito ajudaram a empestar o mercado financeiro com estes produtos rotulando-os de activos sem risco ou com risco diminuto. A certa altura percebeu-se que esses activos financeiros pouco ou nenhum valor tinham. As perdas sucederam-se, umas empresas contagiaram outras, e a crise começou. Vários bancos foram à falência, outros tiveram que ser nacionalizados, e todos os que se salvaram passaram por um período difícil. A crise financeira expandiu e o mundo entrou em recessão.
Para combater a crise, os governos aumentaram os gastos e os bancos centrais começaram um período de expansão monetária. Enquanto que o BCE utilizou a sua política monetária com cautela (por vezes com cautela demasiada), o seu homólogo dos EUA - o FED - encetou uma política interminável de impressão de notas de dólar. As injeções consecutivas de moeda provocaram o aumento do preço do petróleo, mesmo antes da economia real recuperar. Essa política não levou a uma criação permanente de emprego, levantou pressões inflacionárias por todo o mundo, e tornou a economia europeia menos competitiva (com o aumento do valor do euro). A política monetária demasiado expansionista foi um fracasso e teve e terá repercussões negativas na Europa.
Dois anos após o fim da crise que começou por ser financeira e interna aos EUA, a economia dos EUA ainda está a lutar para criar emprego, os gastos dos consumidores estão em níveis muito baixos, o PIB está a crescer a um ritmo muito modesto, e diversos índices de actividade económica recentemente entraram em contracção. Para além disso a economia Norte-Americana avolumou a sua dívida pública para quase 70% do seu PIB.
Culpar as instituições e líderes da UE pela a situação actual que se vive não passa de uma opção política de Obama, que se debate com um clima difícil para uma reeleição, e que procura desesperadamente encontrar uma maneira de fazer os mercados financeiros subir enquanto culpabiliza a Europa, que no fundo não é mais que uma vítima.
A Europa não criou esta crise e não é só por causa da Grécia que os mercados financeiros descem nos EUA. O poder dos gregos não vai tão longe. A crise financeira começou nos EUA e nunca foi verdadeiramente curada tendo-se tornado numa crise económica. Ao contrário das crises financeiras, as crises da economia real não se curam com injeções de moeda como tem tentado o FED. O mercado financeiro tem sido falsamente empolado por essas políticas. A falta de uma política fiscal geradora de emprego e riqueza levou os EUA a este ponto.
28 de Setembro de 2011
por Filipe R. Costa
Editor Executivo CutTheSpread.com
Durante os últimos dias tenho lido e ouvido muitos comentários a pressionar a UE a fazer algo de concreto para conter o problema da dívida grega e evitar o contágio de uma crise financeira. Segundo várias fontes, a Europa é responsável pela volatilidade que tem assombrado os mercados financeiros e pela queda a que temos vindo a assistir.
Quando ouço tais comentários, uma mistura de sentimentos cresce dentro de mim. Por um lado, fico desapontado com a forma como políticos e entidades públicas têm lidado com a economia, priorizando os seus interesses acima dos de quem lhes conferiu os poderes, e dessa forma contribuírem para um agravamento generalizado das condições económicas. Por outro lado esses comentários acusatórios dão-me vontade de rir.
Como todos se lembram, a crise do "subprime" começou nos EUA, antes de expandir para todo o mundo. Muitos activos financeiros foram "reembalados" em pacotes embelezados que os transformavam em algo com melhor aspecto e vendidos a Wall Street e à banca a preços muito acima do seu valor. As agências de notação de crédito ajudaram a empestar o mercado financeiro com estes produtos rotulando-os de activos sem risco ou com risco diminuto. A certa altura percebeu-se que esses activos financeiros pouco ou nenhum valor tinham. As perdas sucederam-se, umas empresas contagiaram outras, e a crise começou. Vários bancos foram à falência, outros tiveram que ser nacionalizados, e todos os que se salvaram passaram por um período difícil. A crise financeira expandiu e o mundo entrou em recessão.
Para combater a crise, os governos aumentaram os gastos e os bancos centrais começaram um período de expansão monetária. Enquanto que o BCE utilizou a sua política monetária com cautela (por vezes com cautela demasiada), o seu homólogo dos EUA - o FED - encetou uma política interminável de impressão de notas de dólar. As injeções consecutivas de moeda provocaram o aumento do preço do petróleo, mesmo antes da economia real recuperar. Essa política não levou a uma criação permanente de emprego, levantou pressões inflacionárias por todo o mundo, e tornou a economia europeia menos competitiva (com o aumento do valor do euro). A política monetária demasiado expansionista foi um fracasso e teve e terá repercussões negativas na Europa.
Dois anos após o fim da crise que começou por ser financeira e interna aos EUA, a economia dos EUA ainda está a lutar para criar emprego, os gastos dos consumidores estão em níveis muito baixos, o PIB está a crescer a um ritmo muito modesto, e diversos índices de actividade económica recentemente entraram em contracção. Para além disso a economia Norte-Americana avolumou a sua dívida pública para quase 70% do seu PIB.
Culpar as instituições e líderes da UE pela a situação actual que se vive não passa de uma opção política de Obama, que se debate com um clima difícil para uma reeleição, e que procura desesperadamente encontrar uma maneira de fazer os mercados financeiros subir enquanto culpabiliza a Europa, que no fundo não é mais que uma vítima.
A Europa não criou esta crise e não é só por causa da Grécia que os mercados financeiros descem nos EUA. O poder dos gregos não vai tão longe. A crise financeira começou nos EUA e nunca foi verdadeiramente curada tendo-se tornado numa crise económica. Ao contrário das crises financeiras, as crises da economia real não se curam com injeções de moeda como tem tentado o FED. O mercado financeiro tem sido falsamente empolado por essas políticas. A falta de uma política fiscal geradora de emprego e riqueza levou os EUA a este ponto.