02 dezembro 2011

 

O ataque aos feriados


Hoje é o último primeiro dia de Dezembro vivido como feriado, segundo auguram os prognósticos. Um feriado civil que vai ao galheiro em nome da produtividade. Os ideólogos do trabalho há muito que vinham rondando a possibilidade de abolição de pelo menos alguns feriados e, nesse sentido, faziam várias investidas. A “crise”, apresentada como uma espécie de fatalidade que nos caiu em cima, foi o pretexto. Um pretexto eficaz, uma razão peremptória que deixa os possíveis opositores praticamente emudecidos. É a “crise”. E dizendo-se a “crise”, anula-se a possibilidade de ripostar. A “crise” tem sido o pretexto para um fantástico recuo ou, noutra perspectiva, para um câmbio de posições, uma mutação de relação de forças.
A questão dos feriados insere-se nessa estratégia. Estou convencido que não tem grande significado a nível de aumento da produção, mas tem-no a nível simbólico. Através dela, reafirma-se a necessidade de aumentar o tempo de trabalho para vencer a “crise”, cuja origem e natureza pouca gente questiona. Por outro lado, aproveita-se a oportunidade para pôr em causa o simbolismo de certas datas. Algumas delas são ainda como que tabu; ninguém tem coragem de mexer nelas, não obstante uma ou outra provocação, como a de alguém, responsável, que alvitrou a data do 1.º de Maio. De vagar se vai ao longe.
Para já, temos o 1.º de Dezembro, que é uma data que comemora um feito longínquo que quase ninguém recorda já, apesar do seu marcado simbolismo no processo da nossa independência. E temos o 5 de Outubro, que celebra um facto recente e muito importante como acto fundacional do regime republicano, que é matriz constitucional da nossa democracia. Estamos, assim, no caminho para a amnésia forçada que parece constituir uma estratégia deliberada relativamente a eventos marcantes da nossa História.





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