24 novembro 2011
Em letargia aparente
Uma coisa que me causava espanto, nos últimos tempos, sempre que consultava o blogue, era ver uma ausência quase sistemática de colaboração por parte dos nossos companheiros, pelo menos os mais habituais. Perguntava-me se o vendaval em que têm sido envolvidas as nossas vidas à pala da «crise» tinha entupido os nossos colegas, porque o caso não seria para menos. O certo é que, timoratamente, questionando-me sobre se o meu próprio levantar de cabeça no meio de um silêncio geral não seria acto temerário, eu lá fui metendo umas muito modestas tiradas, a ver se ia alimentando a chama. Afinal, constato agora que os meus colegas de blogue estavam muito caladinhos para, de repente, se desdobrarem em eloquentes e chorudas lucubrações. Umas atrás das outras. Pás, pás, pás… É de ficar aturdido e, ao mesmo tempo, fascinado com tão fecundas e percucientes (porque o são, sem qualquer ponta de ironia) exposições, dignas praticamente todas de uma reflexão demorada. Não são “posts”; são estudos para imprimir e digerir. E ainda bem que foram publicados no blogue, pese embora a sua extensão e densidade. Quer dizer que os nossos colegas estiveram aparentemente em letargia, mas na realidade o que estiveram a fazer foi a municiarem-se para produzirem trabalhos de grande fôlego e darem-nos grandes trabalhos para os digerirmos.
Um desses trabalhos intitula-se significativamente Sobre o direito do trabalho em época de crise, da autoria de Henriques Gaspar. Foi o primeiro que li, porque segui a ordem cronológica. Eis uma exposição fascinante pela densidade, pelo rigor certeiro e pelo brilho das ideias, ainda que se possa discordar de uma ou outra afirmação. Os outros trabalhos são igualmente muito bons, a um outro nível, mas não quero, ao menos para já, comentar nenhum deles em pormenor.
Pego apenas numa afirmação do primeiro trabalho que referi (o do Henriques Gaspar).
A crise financeira – e temos hoje a prova dos factos – não é um acidente da natureza como um tremor de terra; foi sobretudo a falência de teorias económicas que induziram, capturando-as, políticas suicidárias de desregulação financeira.
Eis um pensamento que tantas vezes tenho repetido para mim mesmo, mas que não fui capaz de pôr em letra impressa. Isto a que nós estamos a assistir não é um acidente da natureza como um tremor de terra. Digam isto bem alto, caramba! Sobretudo hoje, que é dia de greve geral. E digam-no bem alto, porque todas as iniciativas que se têm tomado, toda a política que tem sido adoptada vai no sentido inverso. Corresponde a uma falsificação ideológica. Têm-nos querido meter na cabeça que isto é uma desgraça que nos bateu à porta, o tal acidente da natureza que nos caiu em cima. Isto é, têm querido naturalizar (e este trabalho de naturalização é o primeiro trabalho da ideologia) uma «crise» que tem causas e responsáveis e grandes aproveitadores das consequências dela. Quando muito, fazem-nos crer que somos todos responsáveis, porque vivemos todos acima das nossas possibilidades (outra forma de fazer intervir a ideologia pela generalização). Logo, todos temos de pagá-la igualmente, o que não passa de outra forma de falsificar as coisas. Basta ver quem são os verdadeiros sacrificados e quem os verdadeiros aproveitadores. Basta ver as imagens da televisão e quem anda num corrupio constante à volta do poder.
Um desses trabalhos intitula-se significativamente Sobre o direito do trabalho em época de crise, da autoria de Henriques Gaspar. Foi o primeiro que li, porque segui a ordem cronológica. Eis uma exposição fascinante pela densidade, pelo rigor certeiro e pelo brilho das ideias, ainda que se possa discordar de uma ou outra afirmação. Os outros trabalhos são igualmente muito bons, a um outro nível, mas não quero, ao menos para já, comentar nenhum deles em pormenor.
Pego apenas numa afirmação do primeiro trabalho que referi (o do Henriques Gaspar).
A crise financeira – e temos hoje a prova dos factos – não é um acidente da natureza como um tremor de terra; foi sobretudo a falência de teorias económicas que induziram, capturando-as, políticas suicidárias de desregulação financeira.
Eis um pensamento que tantas vezes tenho repetido para mim mesmo, mas que não fui capaz de pôr em letra impressa. Isto a que nós estamos a assistir não é um acidente da natureza como um tremor de terra. Digam isto bem alto, caramba! Sobretudo hoje, que é dia de greve geral. E digam-no bem alto, porque todas as iniciativas que se têm tomado, toda a política que tem sido adoptada vai no sentido inverso. Corresponde a uma falsificação ideológica. Têm-nos querido meter na cabeça que isto é uma desgraça que nos bateu à porta, o tal acidente da natureza que nos caiu em cima. Isto é, têm querido naturalizar (e este trabalho de naturalização é o primeiro trabalho da ideologia) uma «crise» que tem causas e responsáveis e grandes aproveitadores das consequências dela. Quando muito, fazem-nos crer que somos todos responsáveis, porque vivemos todos acima das nossas possibilidades (outra forma de fazer intervir a ideologia pela generalização). Logo, todos temos de pagá-la igualmente, o que não passa de outra forma de falsificar as coisas. Basta ver quem são os verdadeiros sacrificados e quem os verdadeiros aproveitadores. Basta ver as imagens da televisão e quem anda num corrupio constante à volta do poder.