18 fevereiro 2012
O Pai, o papão
A troika funciona para muitos dos responsáveis pelos destinos do país como uma espécie
de entidade paternalista. Ela é o Pai de que precisávamos para, na perspectiva
desses responsáveis, pormos a casa em ordem, já que, pelos nossos próprios
meios, parece que não o conseguiríamos fazer. Muitas vezes desempenha mesmo o
papel de um papão, num recriado imaginário infantil.
Veja-se a obsessiva invocação da autoridade da troika, a propósito de tudo e de nada. Não
há praticamente decisão que se tome, sem se aludir ao célebre memorando da troika.
A nossa cartilha, a nossa lei suprema é a troika. A troika é a autoridade que está acima das autoridades do país, a autoridade por excelência, a única autoridade que passamos a conhecer e a reconhecer. Tem de se fazer isto ou aquilo, porque a troika disse para se fazer, e o que ela diz ou disse não se discute.
Está no memorando da troika! – eis o argumento com que se emudecem as bocas, o látego representando a autoridade do Pai com que se constrangem as consciências.
A troika é o olho omnipresente que nos vigia, que está sempre alerta, que vê o que fazemos
ou deixamos de fazer. O papão. Tão forte é o seu poder real e oculto, que os nossos governantes até têm demonstrado a vontade de ir além daquilo que ela determina ou exige. Quer-se não apenas cumprir, mas exceder-se no cumprimento, como um subordinado que pretendesse cair nas boas graças do chefe fazendo mais do que lhe seria exigível e impondo aos de baixo, na cadeia hierárquica, um rigor ainda mais acentuado. Tiques que conhecemos bem de repressões e aviltamentos mal recalcados.
de entidade paternalista. Ela é o Pai de que precisávamos para, na perspectiva
desses responsáveis, pormos a casa em ordem, já que, pelos nossos próprios
meios, parece que não o conseguiríamos fazer. Muitas vezes desempenha mesmo o
papel de um papão, num recriado imaginário infantil.
Veja-se a obsessiva invocação da autoridade da troika, a propósito de tudo e de nada. Não
há praticamente decisão que se tome, sem se aludir ao célebre memorando da troika.
A nossa cartilha, a nossa lei suprema é a troika. A troika é a autoridade que está acima das autoridades do país, a autoridade por excelência, a única autoridade que passamos a conhecer e a reconhecer. Tem de se fazer isto ou aquilo, porque a troika disse para se fazer, e o que ela diz ou disse não se discute.
Está no memorando da troika! – eis o argumento com que se emudecem as bocas, o látego representando a autoridade do Pai com que se constrangem as consciências.
A troika é o olho omnipresente que nos vigia, que está sempre alerta, que vê o que fazemos
ou deixamos de fazer. O papão. Tão forte é o seu poder real e oculto, que os nossos governantes até têm demonstrado a vontade de ir além daquilo que ela determina ou exige. Quer-se não apenas cumprir, mas exceder-se no cumprimento, como um subordinado que pretendesse cair nas boas graças do chefe fazendo mais do que lhe seria exigível e impondo aos de baixo, na cadeia hierárquica, um rigor ainda mais acentuado. Tiques que conhecemos bem de repressões e aviltamentos mal recalcados.
Agora que a troika está de novo connosco para mais uma “visita”, quis-se fazer-lhe mais uma demonstração de que somos “meninos” bem comportados e estamos na disposição de penitenciarmo-nos pela má imagem que provavelmente lhe causamos, quando ela desembarcou pela primeira vez em Lisboa para nos impor a sua lei, como credora das nossas vidas, e nós fomos gozar uns feriados e umas “pontes”. Aboliu-se, à última hora, a habitual tolerância de ponto concedida aos funcionários públicos na terça-feira de carnaval. Nada de mascaradas, nem de folia. Ela está aí, a troika. E como dizia Alexandre O´nneil, «neste país em diminutivo/ respeitinho é que é preciso.»