07 agosto 2012
O eucaliptal da Europa
Agora, também parece estar em
vias de liberalização a arborização e reflorestação do país.
Segundo a proposta da Autoridade
Florestal Nacional, o que se pretende é alterar toda a legislação em vigor de
modo a flexibilizar também este
sector.
Em áreas inferiores a 5 hectares, passará a
ser livre a plantação de espécies arbóreas.
Em áreas superiores a 10
hectares, também passará a ser livre a reflorestação, ainda que implicando a
alteração de espécies arbóreas existentes.
Nenhum condicionamento se imporá
que não seja a mera comunicação ao denominado Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Deste modo, os eucaliptos poderão
avançar sem entraves pelo nosso país adentro, como um exército de
individualidades esgrouviadas e melancólicas, talvez saudosas das suas origens longínquas,
chupando a água dos solos com a sua imensa sede.
São, porém, árvores muito
lucrativas para a indústria da celulose e, por isso, muito cobiçadas pelos
magnatas dessa actividade industrial, que há muito espreitam a oportunidade
para as fazerem proliferar por todo o lado. E elas que crescem tão depressa,
como se fossem árvores de aviário!
Compõem uma paisagem tristonha e desolada, sobretudo quando disseminadas a
esmo, mas são bonitas do ponto de vista da sua rentabilidade económica. Isso
vale muito mais do que as nossas espécies arbóreas autóctones – pinheiros,
carvalhos, castanheiros, vidoeiros, etc. – que são naturalmente belas e de
grande relevância do ponto de vista da biodiversidade e do equilíbrio ecológico,
mas de desenvolvimento muito lento para a impaciência dos madeireiros e dos
industriais da celulose.
De resto, têm desaparecido de ano
para ano, ao longo destas últimas décadas, levadas na voragem dos fogos que
assolam sistematicamente o país, mal aperta o calor. Esse é um braseiro a que
nunca se pôs termo, deixando as nossas serras viúvas dessa velhas e seculares
companheiras. Amigas de longuíssima data, algumas do início da nacionalidade,
têm sido dizimadas em grande parte por desleixo e, porventura sacrificadas a
interesses espúrios e inescrupulosos.
O caminho tem, pois, sido
porfiada e metodicamente aberto à invasão do eucalipto.
Há trinta anos atrás, na revista Raiz E Utopia, dirigida por António José
Saraiva, já este alvitrava que o destino de Portugal era ser o eucaliptal da Europa. Levou tempo, mas
a profecia vai, finalmente, cumprir-se, agora que estamos em maré de plena
liberalização e, diz-se, de desregulação:
da saúde, do ensino, do mercado do trabalho, de serviços públicos, como o dos correios, o serviço público de
televisão, e de privatização atabalhoada das empresas do sector público da
economia e, mesmo, de sectores públicos considerados estratégicos.