28 julho 2013

 

Onde está oo radicalismo


 

Muita gente estranha as posições que Mário Soares tem ultimamente tomado e atribui, o seu “radicalismo”, sem o explicitar, a um assomo de excessividade que acompanha a consciência do fim de muitos homens. Algumas reacções quase imperceptíveis, meias palavras, confessadas complacências, contrafeitas tolerâncias denunciam-no.

Porém, o radicalismo não está em Mário Soares. Está nas políticas que têm sido adoptadas e na perspectiva de continuidade dessas políticas. Com efeito, o que se tem feito até aqui, com a acumulação sucessiva de medidas de austeridade, é destruir a melhoria de condições de vida alcançada pela generalidade do povo português com o “25 de Abril”, recolocando numa posição de vulnerabilidade largas franjas da população portuguesa, com o afunilamento dos direitos laborais, a redução ou sonegação das prestações sociais e o aumento exponencial do desemprego (tudo isto para criar o ambiente favorável a uma plena disponibilidade  da mão-de-obra no mercado de trabalho e à sua consequente aquisição a custos mínimos),  destroçando a classe média e preparando-se para aniquilar o Estado Social (na saúde, na educação e ensino, na cultura).

Nem só Mário Soares tem protagonizado esse “radicalismo”. Também, entre muitos outros, Pacheco Pereira, que vem das hostes do PSD, mas enfatiza, na situação presente, a sua formação social-democrata. Também António Capucho, que ainda há dias ouvi na televisão a proferir uma das maiores diatribes contra as políticas de destruição que têm sido seguidas. E outros, e outros. Até Bagão Félix, não obstante ter atenuado ultimamente o seu ardor crítico.

Na verdade, nada tem sido mais violento e radical desde o “25 de Abril” do que aquilo a que se tem assistido nestes últimos anos. É doloroso ver esta destruição sistemática que uma política de contra-reformismo tem vindo a implementar. Podem vir os burocratas de Bruxelas, a Senhora Merkel mais o seu ministro Shauble, o presidente do Eurogrupo e os membros da troika afirmar que este é o caminho para a nossa salvação, mas o que se sente e experimenta é precisamente o contrário, a não ser que andemos com os olhos tapados ou que não os tenhamos suficientemente penetrantes para divisarmos as mirificas transformações de que estamos a ser alvo (Ver o ridículo de Shauble ao afirmar, há dias, que a Grécia tem feito grandes progressos).

Eles querem é o seu dinheiro com juros e querem afeiçoar o nosso país e outros (inclusive o deles) às exigências de uma acomodação europeia ao actual estádio da globalização capitalista.





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