12 julho 2013
Uma imagem que se desfaz
Assunção Esteves era normalmente
vista como uma pessoa simpática, sensata, controlada, tolerante e com um discurso inteligente. Talvez
por isso, a sua eleição para presidente da Assembleia da República foi aceite
pacificamente por todas as bancadas.
Esse seu espírito, bem como a sua
conduta marcada por uma cultura
feminista, deve ter sido o que levou Maria Teresa Horta, posicionada num campo
ideológico completamente diferente, senão antagónico do dela, a declarar ver
com bons olhos que a entrega do prémio D. Dinis, que conquistou com o seu
romance As Luzes de Leonor, lhe fosse
entregue pela ex-Juíza-Conselheira do Tribunal Constitucional, o que não veio a
acontecer, tendo-se recusado frontalmente a recebê-lo das mãos do primeiro-ministro.
Acontece que há ocasiões em que a
imagem superior que se formou de determinada pessoa se estilhaça num repente,
devido a uma palavra, um gesto, uma atitude. Foi o que aconteceu (ou creio ter
acontecido) com Assunção Esteves. Na sua intervenção de ontem na Assembleia da República,
diante de uma manifestação de funcionários públicos nas galerias, Assunção
Esteves exibiu, num relance, uma faceta inesperada do seu génio, puxando uma
voz estentórica, desordenada e feia e gritando ordens de evacuação
completamente fora de si.
Mas o pior dessa triste cena foi
quando, evacuadas as galerias, ela exortou os deputados a não terem medo,
nestes termos: «Não devemos ter medo dos nossos carrascos, como disse Simone de
Beauvoir».
Para além da ofensa, completamente
deslocada, aos manifestantes, tendo em vista o contexto daquela frase, a
presidente da Assembleia da República insultou a memória de Simone de Beauvoir
e mostrou não ser digna da sua evocação.