11 agosto 2013
Impressões sobre Urbano Tavares Rodrigues
Urbano Tavares Rodrigues.
Infelizmente, não é um escritor que eu tenha lido muito, como ele merecia:
contos, uma ou outra novela, livros de viagens. Virei-me mais para os livros de
Maria Judite de Carvalho, sua mulher, uma outra mestra na escrita de crónicas, contos
e novelas.
Conheci-o há muitos anos atrás,
já depois do “25 de Abril”, tendo-me sido apresentado por amigos comuns e
privei com ele durante alguns dias em que esteve no Porto. Conversámos muito
sobre muitos assuntos, em noites prolongadas, cirandando pelos bares
portuenses. Falei-lhe de Sá Coimbra, de quem era amigo, e dum livro que este
tinha escrito – A Chancela – um romance
sobre o exercício do poder judicial na ditadura, mas apanhando já o “25 de
Abril”.
Um mês depois, na página
literária dum periódico (não sei agora qual), fez uma curta resenha crítica ao
livro, bastante elogiosa, no contexto de outras críticas, talvez a uma dezena
de livros, entre ficção e ensaio, dando a esse conjunto um título do estilo Leitura de férias. Fiquei espantado com
a sua capacidade de leitura.
Teve a gentileza de me oferecer alguns livros seus
com dedicatórias muito amistosas.
Recordo desse tempo uma
convivência extremamente agradável, uma ímpar delicadeza de trato, uma grande
abertura, para lá de condicionamentos ideológicos, uma plena disponibilidade
para estar, para conversar, para ouvir, uma vastíssima erudição que surgia
fluente e discreta na conversa, uma viva curiosidade pelas coisas fora do seu
universo cultural, como, por exemplo, pela magistratura, de que eu, nesse grupo
de amigos, era o único representante.
Por tudo isso, deveria ter sido
um mais assíduo leitor da sua obra.
O seu desaparecimento, no fim de
uma vida tão longa, plena e vivida apaixonadamente até ao fim, vai ser –
prometo-o a mim mesmo – um incentivo para um maior aprofundamento da sua obra.
É, como se diz, a melhor maneira de homenagear o intelectual, o escritor, o
cidadão exemplar e o homem dotado de um raro poder de empatia.