27 janeiro 2014
A realidade ilusória e a verdadeira realidade
E
por falar em realidade nova, a ministra das Finanças disse que não podia haver
recuperação no sentido que muitas pessoas estavam a pensar, isto é, no sentido
de os portugueses que foram afectados pelas tais medidas de austeridade (e
foram muitos e muitos), recuperarem o que perderam, porque agora havia uma
realidade nova que não tinha a ver com o passado. No passado vivemos em ilusão,
disse.
Ora,
a realidade nova é a que foi criada com a política de cortes nos vencimentos e
salários, nas pensões e subsídios, na facilitação dos despedimentos, na
dispensa de funcionários públicos, no aumento das horas de trabalho não pagas,
na substancial diminuição do custo das horas extraordinárias, na diminuição das
férias, na redução de direitos por doença, nas restrições ao acesso à saúde, ao
ensino e à cultura, etc.
Este
elenco de consequências diz-nos bem quais foram os sectores da população
portuguesa afectados. Será que a tal ilusão de que se fala era o nível de vida
alcançado por esses estratos populacionais? A ilusão em que se viveu até aqui
deve ser imputada, fundamentalmente, às vantagens obtidas com o Estado Social?
Parece que sim.
E
será que o programa para essa transmutação da realidade, implicando esse
abaixamento de nível para os referidos estratos da população portuguesa foi claramente
submetido ao eleitorado, aquando das eleições? Parece que não. No entanto, esse
pareceria ser um ponto fulcral para o cumprimento dos protocolos democráticos,
para a legitimidade do exercício do poder e para a tal transparência que se
deseja.
Ou
será que, por suposta vivência ilusória, essa fatia substancial do eleitorado
não estava em condições de perceber, segundo os candidatos ao poder e seus
apoiantes mais esclarecidos, o tratamento que lhes devia ser infligido para se
criar a verdadeira realidade?