26 novembro 2014

 

E contudo...


 

Nunca apreciei Sócrates como figura pública e como político, e manifestei-o por várias vezes em artigos que escrevi na imprensa, quando tinha ao meu dispor uma coluna no JN. Também neste blogue assinei alguns textos contra os que apostavam nele, numa espécie de regresso do “Desejado”. Via nele, pelo que me era dado observar e por algumas peripécias que eram do meu conhecimento, um ditador em potência. Nunca acreditei no seu socialismo, com aquele seu ar de “bem vestidinho”, como o definiu um psicanalista de projecção (Coimbra de Matos, se não erro) e que nessa frase resumia toda uma mundividência.

Porém, tenho pena que ele esteja envolvido nos acontecimentos que têm vindo a lume. Tenho pena por ele e pelo país, porque não é motivo para euforia (antes pelo contrário) que um cidadão que foi primeiro-ministro tenha sido detido e depois sujeito a prisão preventiva, por força de indícios de ter cometido crimes graves. Acho que isto nos devia entristecer a todos, este andar nas bocas do mundo, este brutal contraste entre a situação de um homem que já teve grandes responsabilidades na condução dos destinos do país e a situação que agora vive, privado de liberdade, ainda por cima com a ironia, que tem sido sublinhada, de ter  sido ele a inaugurar alguns dos estabelecimentos por onde tem passado na sua condição de sujeição a um dos três poderes do Estado, de que foi figura central, este escândalo que atravessa todas as fronteiras e que traz o homem, e com ele o país, para a ribalta de todos os “media”.

Engana-se quem se alegra com isto. Mas também se engana quem vê nisto mais uma cabala, quem manifesta uma agressão incontida ou uma intolerância mal disfarçada face ao poder judicial, quem generaliza um caso a toda uma agremiação (neste caso, política), quem pretende tirar dividendos políticos, jogando pusilanimemente com a pretensa fraqueza do adversário. A situação atinge-nos a todos.

E, contudo, as instituições funcionam, como sói dizer-se.





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