04 janeiro 2016
Razões de uma escolha
(Ou de como a realidade
é o que é e a ideologia uma bagunça)
Passou a festa de Santa
Claus, foi expulso o Ano Velho e veio o Ano Novo. É costume nesta altura passar
em revista os eventos mais salientes do ano que findou, assim como as
personalidades que, por uma razão ou por outra, adquiriram mais projecção. Não
vou para além das nossas fronteiras na busca dos tais eventos notáveis e das
personalidades mais marcantes do ano, pois nem sempre as cousas mais dignas da
nossa atenção e as acções mais admiráveis se encontram fora da nossa Pátria.
Antes pelo contrário, o nosso esforço deve ser dirigido em primeiro lugar para
o que acontece na nossa terra, não só por razões de proximidade, como também de
afectividade, exaltando o que de bom e denegrindo o que de mau nela teve lugar.
Porque, naturalmente, o
nosso espírito foge dos acontecimentos sombrios e é atraído pelos que nos
trazem maior proveito e felicidade, estes fazendo esquecer a pungência
daqueles, o meu gosto pende totalmente para a acção de uma figura de proa da
nossa vida pública e que muito tem contribuído com o seu saber, a sua
tenacidade e o melhor do seu esforço para a fisionomia que o nosso país tem
adquirido nas últimas décadas. Refiro-me, como não podia deixar de ser, ao nosso
Presidente Magister.
Trata-se de uma
personalidade que sempre teve os pés bem assentes na realidade e, quando digo
realidade, refiro-me à realidade pura e dura, ou simplesmente, sem adjectivos,
Realidade. Nestes últimos anos, tão difíceis para o nosso país, soube sempre escutar
e interpretar a voz do Real para se colocar do lado certo, aquele que permite a
um sujeito bem situado no centro da mesma realidade dizer: “Este é o caminho;
não há que enganar”. Fere?, golpeia?, faz sangue?, em último caso, bane quem
não pode aguentar a caminhada? Pois sim, mas é o Caminho. No fim dele, está o
sucesso, o triunfo, a salvação.
Foi assim, guiado pela
sábia percepção do real, que o nosso Presidente Magister soube sempre
acompanhar, com o seu alto magistério, e caucionar com o seu alto patrocínio, o
rumo que uma governação austera, mas realista, foi imprimindo ao nosso país nos
último anos. E, no fim, aspirando no ar o odor do sucesso, não se cansou de glorificar
o caminho trilhado, cantando por toda a parte os valorosos feitos que puseram a
nossa Pátria na senda do progresso.
Desejando dar
continuidade a esse rumo tão promissor, o nosso Presidente Magister fez, no ano
findo, por ocasião de novas eleições, uma aposta solene numa coligação sólida
para governar o país. Referia-se, evidentemente, a uma coligação sólida baseada
na realidade. Porém, aconteceu uma cousa surpreendente e nunca vista: os
partidários mais capazes, segundo a tradição, de darem o seu contributo para
essa coligação, roubaram a realidade ao Presidente e ao país, unindo-se, contra natura, aos partidários
ideológicos e açambarcaram o poder. Cousa supinamente infame! Nunca se viu que
a realidade fosse, assim, objecto de um roubo, ainda para mais a realidade
presidencial, e fosse substituída pela ideologia espúria, popularucha e
demagógica. O Presidente tentou assenhorear-se novamente da realidade, mas não
conseguiu, dado que os seus poderes estão prestes a expirar, na sua já longa carreira
política.
Pese embora tal
circunstância, o Presidente Magister não se conformou e fez, no fim do ano, em jeito
de despedida, uma advertência que ficará para sua glória pessoal e para os anais
da História: a Realidade acaba sempre por vir ao de cima e terminará por vencer a governação ideológica.
Nestes tempos difíceis,
eis uma singular abertura para a esperança e um motivo de sobra para a minha
escolha do ano que passou.
Jonathan Swift (1665-1745)