19 janeiro 2017
O último dia de Obama
Termina amanhã o consulado de Obama, o primeiro homem de cor (embora não afro-americano, como por aí se diz, por não ser descendente de escravos, nem sequer propriamente negro) que dormiu na Casa Branca. Tinha uma imagem simpática e era um bom orador (a raiar por vezes a demagogia). Levou de qualquer forma ar fresco para a dita Casa, mas o seu legado positivo mostra-se demasiado frágil para poder aguentar-se. A sua herança é aliás ambígua. Por um lado, conseguiu impor o "Obamacare", uma medida "social", uma autêntica lança em África, aliás, na "América"... Essa a única grande medida internamente. Procurou outras reformas importantes e de sinal progressivo; a legalização dos imigrantes e o controlo da posse de armas. Não conseguiu: a América branca resistiu e ganhou. E Obama não apelou a nenhum apoio popular que sustentasse os seus esforços. Isso não estaria certamente nos seus horizontes, pois ele é indubitavelmente um "homem do sistema". Também não conseguiu melhorar a situação dos negros. Pelo contrário, radicalizou-se no seu mandato, nas suas barbas, perante a sua impotência, a atitude racista da polícia americana. Não lhe serviu de nada ir a Selma participar na manifestação comemorativa das lutas dos anos 60, os negros continuam a ser o alvo preferido dos polícias... A nível internacional, a atribuição do prémio Nobel foi precipitada e mesmo completamente injustificada. Obama foi, como os demais presidentes dos EUA, um "senhor da guerra", primeiro diretamente no Afeganistão, depois indiretamente na Ucrânia, na Líbia, na Síria. Por último "ressuscitou", de mãos dadas com a Alemanha, a guerra fria com a Rússia, que mesmo sem regime comunista voltou a ser o "inimigo principal"... Outros aspetos negativos: não apoiou a "primavera árabe" e inclusivamente agravou a situação no Médio Oriente com o apoio armado à oposição síria e não contribuiu minimamente para a resolução do conflito israelo-palestiniano. Aspetos positivos; acordo nuclear com o Irão, desbloqueamento das relações com Cuba, tratado de Paris sobre as alterações climáticas. Por último, um aspeto fortemente negativo: a manutenção do campo de Guantánamo. Enfim, uma herança contraditória e, no que tem positivo, ameaçada de esmagamento pela América branca que amanhã toma posse.