03 novembro 2006
À escuta ou gato escondido com o rabo de fora
Afinal, e ao contrário do que alguns mal intencionados supunham, a comissão que o José Mouraz Lopes refere no postal abaixo não se destina a formular o julgamento parlamentar (com o rigor e a imparcialidade a que nos tem habituado a justiça das comissões) de um caso judiciário concreto. Com efeito, lendo a Resolução da Assembleia da República nº 56/2006 pode constatar-se que a sua previsão é muito abrangente e genérica, visando um «inquérito parlamentar ao processamento, disponibilização e divulgação de registos de chamadas telefónicas protegidos pela obrigação de confidencialidade».
A República deve aguardar serena e atenta a metodologia adoptada e os esclarecedores resultados de tão ampla tarefa.
Pena é que a concretização, expressa no «designadamente» do nº 2, seja perturbadora para mentes simples e menos preclaras do que as dos parlamentares relatores do texto, «nomeadamente», quando depois das alíneas a) e b) se concentrarem na conta Estado (decerto que a confidencialidade dos telefones pagos pelo Estado é de superior importância) se volta ao genérico na al. c), mas na al. d) assume-se que deve ser empreendida a indagação de «Quem foram os responsáveis pela selecção, processamento e disponibilização da informação constante dessas disquetes», quando anteriormente não foram referidas nenhumas disquetes, nem sequer nenhum processo concreto... Processo «fantasma» que ao cair sobre a alínea d) ainda pairou nas duas últimas alíneas (e) e f)). Será algo de «que toda a gente sabe o nome» «mas ninguém se atreve a nomear»?
PS- Esclareça-se que o gato do título do postal é o da expressão popular e não o incómodo personagem que um certo cronista do regime, no exercício do seu mister e no seu estilo «mais ou menos aparvalhado», assim apelidou (até porque, de acordo com o texto da resolução, esta comissão não terá na sua génese nem nos seus objectivos um visado concreto, felídeo ou humano...).