09 julho 2008
Clube des Haxixins
Já contei várias histórias de drogas, em crónicas de jornal e até neste blogue, se não erro. Uma delas foi a do deslumbramento de Eça de Queirós com o haxixe que trouxera da viagem que efectuara com o Conde de Resende ao Médio Oriente, para assistirem à inauguração do Canal do Suez – história contada pelo seu amigo Jaime Batalha Reis, na fabulosa “Introdução” às Prosas Bárbaras.
Agora, vou contar mais uma história de haxixe ligada a pessoas célebres, mas vou contá-la servindo-me do escritor americano Edmund Wite, que escreveu um singular guia de Paris, cidade onde residiu muitos anos – guia esse que li numa recente viagem que fiz à Cidade-Luz.
“Era no Hotel Lauzin que o Clube des Haxixins realizava as suas reuniões. Aí, um grupo de homens ligados às letras e às artes – incluindo os escritores Balzac, Gautier e Baudelaire e os pintores Édouard Manet, Honoré Daumier e Constintin Guys – reunia-se com umas quantas mulheres para passar longas noites em que ouviam música e … comiam haxixe (porque, pelos vistos, o haxixe era servido sob a forma de uma geleia esverdeada).”
Depois de aludir às fantásticas sensações de uma dessas noites, descritas por Gautier, “em que tudo era tão distorcido – e tão apelativo para a imaginação - que não admira que Gautier tivesse usado a palavra «fantasia» para descrever uma tal noite”, Edmund White diz que «o Clube dos Consumidores de Haxixe” não reuniu mais do que oito ou nove vezes», e relata-nos a desconfiança de Balzac em relação à droga, «receando perder o controle da sua vontade de aço ou da sua influenciável mente». E, quanto a Baudelaire, parece que preferia o vinho, que achava «mais democrático, porque mais barato e mais facilmente disponível (tal e qual como Óscar Wilde, Baudelaire era simultaneamente um socialista e um snob estético).». De tal forma, que veio a escrever que
«O vinho exalta a vontade, o haxixe aniquila-a. O vinho é um sustento para o corpo, o haxixe, uma arma para o suicídio. O vinho torna as pessoas boas e amistosas. O haxixe isola. O vinho significa trabalho duro, ao passo que o haxixe é um sinónimo de preguiça. Por que estranha razão há-de alguém suportar a maçada que é trabalhar, lavrar a terra, escrever, enfim, fazer o quer que seja, se, com uma fumaça, pode alcançar o paraíso? O vinho é para as pessoas que trabalham e que merecem bebê-lo. O haxixe pertence à categoria dos prazeres solitários; foi feito para o ocioso infeliz. O vinho é útil, produz resultados frutíferos. O haxixe é inútil e perigoso.»
Segundo Baudelaire e Gautier, a palavra haxixe estaria ligada à palavra assassino. Gautier escreveu mesmo um conto que se chama “Le Clube des Haxixins”, onde conta a história de um déspota oriental, «que transformou os seus homens em saqueadores (ou assassinos), desvairadamente intrépidos e sem o menor medo da morte, mantendo-os constantemente pedrados com haxixe».
*
Espero que os meus leitores não vejam nesta história mais do que uma intenção, da minha parte, de curiosidade e divertimento. Não pretendo ilustrar nenhuma teoria a respeito de qualquer droga. E acho sinceramente deliciosa a contraposição baudelaireana do vinho ao haxixe.
Agora, vou contar mais uma história de haxixe ligada a pessoas célebres, mas vou contá-la servindo-me do escritor americano Edmund Wite, que escreveu um singular guia de Paris, cidade onde residiu muitos anos – guia esse que li numa recente viagem que fiz à Cidade-Luz.
“Era no Hotel Lauzin que o Clube des Haxixins realizava as suas reuniões. Aí, um grupo de homens ligados às letras e às artes – incluindo os escritores Balzac, Gautier e Baudelaire e os pintores Édouard Manet, Honoré Daumier e Constintin Guys – reunia-se com umas quantas mulheres para passar longas noites em que ouviam música e … comiam haxixe (porque, pelos vistos, o haxixe era servido sob a forma de uma geleia esverdeada).”
Depois de aludir às fantásticas sensações de uma dessas noites, descritas por Gautier, “em que tudo era tão distorcido – e tão apelativo para a imaginação - que não admira que Gautier tivesse usado a palavra «fantasia» para descrever uma tal noite”, Edmund White diz que «o Clube dos Consumidores de Haxixe” não reuniu mais do que oito ou nove vezes», e relata-nos a desconfiança de Balzac em relação à droga, «receando perder o controle da sua vontade de aço ou da sua influenciável mente». E, quanto a Baudelaire, parece que preferia o vinho, que achava «mais democrático, porque mais barato e mais facilmente disponível (tal e qual como Óscar Wilde, Baudelaire era simultaneamente um socialista e um snob estético).». De tal forma, que veio a escrever que
«O vinho exalta a vontade, o haxixe aniquila-a. O vinho é um sustento para o corpo, o haxixe, uma arma para o suicídio. O vinho torna as pessoas boas e amistosas. O haxixe isola. O vinho significa trabalho duro, ao passo que o haxixe é um sinónimo de preguiça. Por que estranha razão há-de alguém suportar a maçada que é trabalhar, lavrar a terra, escrever, enfim, fazer o quer que seja, se, com uma fumaça, pode alcançar o paraíso? O vinho é para as pessoas que trabalham e que merecem bebê-lo. O haxixe pertence à categoria dos prazeres solitários; foi feito para o ocioso infeliz. O vinho é útil, produz resultados frutíferos. O haxixe é inútil e perigoso.»
Segundo Baudelaire e Gautier, a palavra haxixe estaria ligada à palavra assassino. Gautier escreveu mesmo um conto que se chama “Le Clube des Haxixins”, onde conta a história de um déspota oriental, «que transformou os seus homens em saqueadores (ou assassinos), desvairadamente intrépidos e sem o menor medo da morte, mantendo-os constantemente pedrados com haxixe».
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Espero que os meus leitores não vejam nesta história mais do que uma intenção, da minha parte, de curiosidade e divertimento. Não pretendo ilustrar nenhuma teoria a respeito de qualquer droga. E acho sinceramente deliciosa a contraposição baudelaireana do vinho ao haxixe.