14 outubro 2008

 

O meu encontro com Herberto Hélder

A propósito do lançamento do último livro de HH, lembrei-me de relatar aqui o meu (não) encontro com ele.
Foi há cerca de dez anos, uma manhã na linha de Cascais, vinha eu de Oeiras para Lisboa. Sentei-me e verifiquei que, sentado no outro lado do corredor, mas de frente para mim, estava um indivíduo a ler o "Photomaton & Vox". Anotei mentalmente o facto e abri o meu livrinho, como habitualmente, e mergulhei na leitura. Mas, passados poucos minutos, apercebi-me, com espanto e alguma indignação, de que o tal indivíduo tinha pousado o livro sobre o joelho e, com uma esferográfica Bic, riscava e emendava resolutamente o texto. Quem teria tal desplante? Quem maltratava assim o livro? Olhei então para a cara do tipo e logo identifiquei o poeta, ele próprio (porque, embora mais velho, não estava muito diferente da única fotografia que conheço dele). Continuei a espreitar sorrateiramente a sua faina, que ele não interrompeu antes de chegar ao Cais do Sodré. Aí fechou a esferográfica e o livro e confundiu-se com a multidão que saía da estação.
Assim trabalhava HH na revisão de "Photomaton & Vox"... Com convicção e displicência simultâneas, em cima do joelho, afinal. Mais valia não o ter visto...
Seguramente que ele não escreve sempre, nem normalmente, daquela forma! Mas foi assim que eu o (não) conheci.





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