14 outubro 2008

 

Os lugares da memória

A propósito deste post, o Luís Eloy, já habitual colaborador do Sine Die, enviou-me, com o título em epígrafe, o texto que passo a publicar:

A propósito do revoltado texto do Dr. Maia Costa sobre a alienação do Forte de Peniche (que não me parece substancialmente muito diferente da do Tribunal da Boa-Hora) gostava de contar uma história atribuída ao General de Gaulle.
Na época em que não se mostrava nada de sensível na televisão francesa sem pedir autorização ao Eliseu, o presidente da ORTF foi ter com o presidente de Gaulle para lhe pedir autorização para passar o filme Le Chagrin et la Pitié de Marcel Ophuls que mostrava uma certa realidade da França no seu período sombrio. Disse aquele: «Meu General, este filme é formidável, era importante mostrá-lo às 20h30 aos telespectadores para verem o que foi a França sob Vichy, a sua realidade, a sua complexidade, a colaboração, os compromissos, …». «Não, nem pensar!» respondeu de Gaulle. O presidente da ORTF teria então dito «Mas meu General, no entanto é tudo verdade!» e de Gaulle replicou «Não se reconstrói uma nação com verdades, reconstrói-se uma nação com mitos».
Se apagarmos os lugares da memória, se não os defendermos, o futuro ficará mais aberto à ideia que não houve presos políticos, que não houve julgamentos políticos. Será certamente mais fácil organizar o esquecimento e mais difícil para todos os que pensam que as nações não se reconstroem com mitos e sobre mitos mas enfrentando a verdade. Pode ser hoje lucrativa a venda destes lugares mas amanhã talvez nos fique a todos muito caro.

Luís Eloy Azevedo





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