16 janeiro 2009
A Cidade de Gaza
A cidade de Gaza arde, após um bombardeio, e não se vê através das cortinas de fumo que empanam o sol, que nesse dia também arde, mas com a sua indiferença de astro-rei. Diz o repórter que os edifícios apenas se percebem vagamente pelos cimos que teimam em furar a nuvem negra. Soldados israelitas, no alto de um monte, festejam o incêndio que lavra sobre Gaza e cantam, diz ainda o repórter, escandalizado. Cantam como Nero, à vista do incêndio de Roma, que ele próprio mandou atear, acompanhando-se grotescamente com a sua cítara e regougando versos heróicos de Homero. Há até um desses soldados que improvisa um baloiço ao pé duma escola infantil e nele se balanceia com ascoroso e provocante sentido lúdico. É o repórter quem o diz ainda. E diz que uma palestiniana, insuflada daquela coragem que é também indiferença por tudo quanto possa sobrevir em consequência das atitudes que se tomam em actos extremos, increpa esses soldados e lhes pergunta se o sofrimento alheio é assim motivo para tanto gozo. Em Israel, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, canta-se também, hasteiam-se bandeiras e atira-se fogo de artifício. É um momento de festa bacante. Poder-se-ia dizer que é uma espécie de loucura nazi.
Um edifício da ONU de ajuda aos palestinianos é atingido e há pessoas feridas e mortas. Ban-Ki-Moon exaspera-se. Também é atacado um edifício que alberga equipamento e gente da comunicação social. Ehud Barack, ministro da Defesa de Israel, pede desculpa, como se esta mania nova de pedir desculpa fosse uma espécie de algodão em rama embebido em álcool para apagar uma nódoa mesquinha. Também foi atingido um hospital.
A acção de Israel está a atingir os objectivos, dizem os estrategos israelitas, sinal de que, estando a obra de destruição quase completada, se pode, finalmente, chegar ao almejado acordo de cessar fogo.
Mais tarde, ao longo da noite, ouço transmitir a Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Sim, o cenário é digno dessa cavalgada musical inebriante com que Francis Ford Coppola, numa das cenas de cinema mais terrivelmente emocionantes da história do cinema de guerra, fez acompanhar o selvático ataque americano no Vietname.
Um edifício da ONU de ajuda aos palestinianos é atingido e há pessoas feridas e mortas. Ban-Ki-Moon exaspera-se. Também é atacado um edifício que alberga equipamento e gente da comunicação social. Ehud Barack, ministro da Defesa de Israel, pede desculpa, como se esta mania nova de pedir desculpa fosse uma espécie de algodão em rama embebido em álcool para apagar uma nódoa mesquinha. Também foi atingido um hospital.
A acção de Israel está a atingir os objectivos, dizem os estrategos israelitas, sinal de que, estando a obra de destruição quase completada, se pode, finalmente, chegar ao almejado acordo de cessar fogo.
Mais tarde, ao longo da noite, ouço transmitir a Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Sim, o cenário é digno dessa cavalgada musical inebriante com que Francis Ford Coppola, numa das cenas de cinema mais terrivelmente emocionantes da história do cinema de guerra, fez acompanhar o selvático ataque americano no Vietname.