22 fevereiro 2011
O medo da revolta árabe
A direita mais reaccionária está apavorada com o que vem acontecendo no mundo árabe. E vai avisando: aqueles povos não querem a democracia, nem sabem o que isso é, são alérgicos por nascença a tal coisa...
À desconfiança natural pelos movimentos populares soma-se um mal disfarçado sentimento xenófobo, se não racista.
E somam-se outras coisas (e aqui já não é só a direita mais à direita, mas a menos, e também o centro e até o centro-esquerda): medo de alteração de forças a nível do Mediterráneo, se não mesmo a nível mundial, com a consequente perda de influência do "Ocidente"; encarecimento das matérias-primas oriundas daquela zona, com desastrosas consequências para os países consumidores; enfraquecimento da posição de Israel, posto avançado do Ocidente na região, com a consequente imposição de uma solução justa do conflito israelo-palestiniano...
É tudo isso que assusta a direita e o poder nos países ocidentais. Os grandes amigos estão a cair: os velhos amigos e também até eventualmente os novos, como Khadaffi...
Os povos saem às ruas, derrubam ou ameaçam governos, tudo isto sem pedirem licença aos governos de lá, nem aos de cá (isto é que é verdadeiramente intolerável!). E nem os "nossos" serviços secretos (ou as suas "antenas"), nem os embaixadores sabiam de nada (são uns burocratas, despacham o expediente e pouco mais)!
Muito possivelmente as massas compactas que saíram e continuam a sair às ruas em diversos países árabes não tem como maior preocupação imitar o "modelo ocidental". Mas não é isso que torna o movimento menos genuíno e legítimo. São certamente diversos e os valores das moles imensas que ocuparam a Praça Tahrir e outras ruas e praças. Mas é evidente que todos estão ali por iniciativa própria, não por "encomenda" de ninguém, estão ali por um genuíno sentimento de revolta, exprimindo um "basta", que é simultaneamente a reivindicação de um outro sistema: para uns será mais a liberdade, para outros o pão e o emprego, para outro(a)s o acesso a direitos que nós consideramos elementares, como os direitos das mulheres, etc., etc. Aliás, a presença constante de mulheres nas manifestações são um dos indícios claros de que "algo de novo" ali se passa.
Pouco importa indagar se eles querem a democracia nos precisos termos em que ela é praticada do lado de cá. O importante é que um muro, uma muralha foi derrubada. Não se sabe bem o que virá a seguir. Mas este é o primeiro passo, um passo sem o qual não poderia haver outros. E não nos cabe a nós dar lições de cátedra, como alguns querem...
À desconfiança natural pelos movimentos populares soma-se um mal disfarçado sentimento xenófobo, se não racista.
E somam-se outras coisas (e aqui já não é só a direita mais à direita, mas a menos, e também o centro e até o centro-esquerda): medo de alteração de forças a nível do Mediterráneo, se não mesmo a nível mundial, com a consequente perda de influência do "Ocidente"; encarecimento das matérias-primas oriundas daquela zona, com desastrosas consequências para os países consumidores; enfraquecimento da posição de Israel, posto avançado do Ocidente na região, com a consequente imposição de uma solução justa do conflito israelo-palestiniano...
É tudo isso que assusta a direita e o poder nos países ocidentais. Os grandes amigos estão a cair: os velhos amigos e também até eventualmente os novos, como Khadaffi...
Os povos saem às ruas, derrubam ou ameaçam governos, tudo isto sem pedirem licença aos governos de lá, nem aos de cá (isto é que é verdadeiramente intolerável!). E nem os "nossos" serviços secretos (ou as suas "antenas"), nem os embaixadores sabiam de nada (são uns burocratas, despacham o expediente e pouco mais)!
Muito possivelmente as massas compactas que saíram e continuam a sair às ruas em diversos países árabes não tem como maior preocupação imitar o "modelo ocidental". Mas não é isso que torna o movimento menos genuíno e legítimo. São certamente diversos e os valores das moles imensas que ocuparam a Praça Tahrir e outras ruas e praças. Mas é evidente que todos estão ali por iniciativa própria, não por "encomenda" de ninguém, estão ali por um genuíno sentimento de revolta, exprimindo um "basta", que é simultaneamente a reivindicação de um outro sistema: para uns será mais a liberdade, para outros o pão e o emprego, para outro(a)s o acesso a direitos que nós consideramos elementares, como os direitos das mulheres, etc., etc. Aliás, a presença constante de mulheres nas manifestações são um dos indícios claros de que "algo de novo" ali se passa.
Pouco importa indagar se eles querem a democracia nos precisos termos em que ela é praticada do lado de cá. O importante é que um muro, uma muralha foi derrubada. Não se sabe bem o que virá a seguir. Mas este é o primeiro passo, um passo sem o qual não poderia haver outros. E não nos cabe a nós dar lições de cátedra, como alguns querem...