05 julho 2011

 

Strauss-Khan, a justiça e o moralismo


Strauss – Khan foi libertado, na sexta-feira passada, da prisão domiciliária em que se encontrava, e foi-lhe restituída a caução que tinha prestado, por terem surgido dúvidas sérias quanto ao comportamento da alegada vítima, que, para além do mais, pretenderia obter, à custa do dirigente do FMI e auspicioso candidato à presidência da República Francesa, uma choruda indemnização. Isto, não obstante impender ainda sobre ele uma suspeita de ter tentado violar a referida empregada do hotel onde ficara hospedado. O caso, porém, deixou de ter a carga com que inicialmente foi apresentado nas câmaras de televisão para todo o mundo, com a espectacular detenção do homem do FMI, reconduzido à reles situação de um criminoso de alto coturno e severamente tratado como tal, não só pelas entidades policiais e judiciárias, mas também, como é evidente, pelas multidões que o vaiavam de passagem e pelos vizinhos do rico bairro onde tinha o seu apartamento e onde ficou em prisão domiciliária, com pulseira electrónica e guardado à vista por guardas armados, 24 horas sobre 24 horas.
A reviravolta que o caso sofreu não deixa de constituir um revés para a famosa celeridade judicial norte-americana e para a confusão que lá parece estabelecer-se entre indícios ou suspeitas e provas da prática de um crime, a ponto de se falar na descredibilização do procurador-geral de Nova York.
Outra situação abominável foi a representada por certas feministas, incluindo do PS francês, que, a pretexto da sexualidade violenta dos “poderosos” (ou seja, das patologias sexuais de certos homens que ocupam cargos de relevo e que se servem deles para as suas actividades predadoras) começaram a confundir essas situações com outras de amores clandestinos ou de devaneios sexuais nos bastidores do poder, mas que não podem reconduzir-se a “agressões sexuais”. Assim é que foi chamado à baila o caso do presidente socialista francês François Mitterrand, que, por sinal, toda a gente sabia que tinha amores clandestinos à margem do casamento.
Tudo foi misturado, numa pequena vaga de moralismo puritano e de feminismo ascético. Provavelmente pensou-se em criar novas leis criminalizadoras que alargassem o âmbito dos crimes sexuais e dessem uma feição mais abrangente ao “assédio”. Por cá, esses reflexos moralistas suscitados pelo caso Strauss – Khan (que agora enfrenta outra acusação de uma jornalista francesa, e eu não discuto as suas eventuais patologias sexuais) também parecem ter tido o seu eco. Um eco um tanto oco.





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