16 outubro 2011

 

Indignação global

A "agenda" das centenas de manifestações realizadas ontem por esse mundo fora (contra as recomendações de Helena Matos e José Manuel Fernandes) não foi evidentemente a mesma, antes se mostrava plena de "localismos", mas pode, sem dificuldade, encontrar-se um traço comum a todas: a consciência da inadaptação dos mecanismos da democracia representativa para abrir as portas a uma sociedade justa; a consciência de que a democracia representativa é o regime da submissão do poder político ao económico, da conversão dos representantes eleitos em marionetas dos senhores do verdadeiro poder (os chamados "mercados").
A democracia representativa, na verdade, está vocacionada para a garantia dos direitos cívicos e políticos, mas não dos direitos sociais e económicos. Hoje, isso tornou-se flagrante. Temos o direito a protestar contra tudo o que quisermos (enfim, se formos bem comportados na forma do protesto...), mas já não temos direito "ao pão, à educação, à saúde, à habitação", que na canção de Sérgio Godinho eram, não o reverso, mas a mesma face da moeda da liberdade.
A democracia representativa tem vindo a cavar um fosso entre o 1% e os 99% da população, por todo o mundo, e não mostra conter mecanismos que dêem aos 99% meios efectivos de influenciar as tomadas de decisão, para além do voto deposto nas urnas periodicamente.
A reclamação de uma maior participação dos cidadãos no poder percorre o mundo. Os contornos das propostas dos indignados são fluidos, imprecisos, mas a indignação alastra. Os representantes, a começar pelos europeus, não estão ainda muito preocupados. Os manifestantes são olhados com desdém ou mesmo desprezo, quando se portam bem, são rotulados de desordeiros e inimigos sociais, quando passam das marcas da boa educação.
Entretanto, o tempo passa, e a maioria silenciosa ganha sempre as eleições... Esses, os que ficam sempre em casa, só saindo para trabalhar e no dia das eleições, são os cidadãos exemplares...





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