25 outubro 2011
O linchamento de Kadafi
Em relação à Líbia, parece-me que o linchamento de Kadafi também tem a ver com outra coisa, que se relaciona com provas. É que o exótico presidente destronado sabia de mais e tinha muitas coisas a revelar, nem que fosse por simples espírito de vindicta, de muita gente ilustre que o cortejava e que o recebia com as devidas honras de chefe de Estado, achando (ou fingindo que achava) muita graça ao seu espavento autóctone. O seu julgamento representava uma verdadeira dor de cabeça para esses senhores, que não passavam de seus cúmplices e beneficiários do seu poder espoliador. Não podia de maneira nenhuma conceber-se que o homem fosse julgado, como Saddam Hussein, poupado exactamente para ser condenado à morte. Assim, a solução mais airosa e mais “democraticamente legitimadora” era fazer com que o homem fosse apanhado numa situação pretensamente criadora de perigos para o seu povo mártir, a exigir uma piedosa intervenção das forças que têm voluntariosamente conduzido todo o processo. Mesmo assim, se bem se repara, ele ficou apenas ferido na intervenção, tendo-se deixado a cena bárbara do assassinato para os autóctones – rebeldes ou forças leais, não se sabe bem, porque estas coisas são sempre muito confusas.