13 dezembro 2012

 

O bom samaritano

A princípio, interpretei a atribuição do prémio Nobel da Paz à União Europeia como um gesto irónico. É que a distinção ocorre precisamente numa situação em que a União Europeia vive uma das suas maiores crises, sofrendo de um notório défice de democracia, subvertendo os princípios e as regras basilares que permitiram estes últimos sessenta anos de relativa paz e de bem-estar, desbaratando todos os fundamentos de solidariedade, destruindo todas as conquistas sociais, sugando os mais fracos e os Estados periféricos e estabelecendo as condições para o reacender de agudos conflitos sociais, enfim, fazendo alastrar a revolta, a violência e a instabilidade. Tudo condições que não são propícias à paz.

Porém, seria estulto pensar que o “comité Nobel” quis ironizar com esta trágica situação. Uma instituição tão nobre tem objectivos mais elevados. O que se terá querido com a atribuição do prémio foi instigar a desunida União Europeia, tão em queda para a sua desintegração, a arrepiar caminho e a inflectir o rumo da sua precipitação.

Digamos que há, aqui, um intuito pedagógico. Mas não sei se as louváveis intenções do “comité Nobel” terão bom acolhimento por parte dos actuais senhores da Europa em decadência. Viu-se o efeito que essas boas intenções tiveram em Barack Obama e, sobretudo, naqueles que, indirectamente, o “comité Nobel” quis sensibilizar através dele.

Dessa forma, o “comité Nobel” arrisca-se a ser uma espécie de “bom samaritano”, mas não a premiar os verdadeiros fautores da paz.





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