10 dezembro 2012
Uma gravidez real e a realidade da "autorregulação" da comunicação social
A família real inglesa é, a par do futebol (premier league), a maior indústria da Grã-Bretanha. Não é fantasia minha. O impacto da realeza na economia é enorme: no turismo, no "merchandising" associado, na manutenção de toda uma imprensa que vende aos milhões, com difusão em todo o mundo, no cinema, aliás em todo o audiovisual. Enfim, a família real dos Windsors é efetivamente uma marca comercial poderosa, com influência notória no PIB daquela velha potência.
Essa marca, para se manter viva, impõe uma permanente provisão de novos motivos para manter o interesse dos consumidores: são as exigências do mercado. E assim, quando faltam acontecimentos maiores, servem mesmo minudências triviais, como a discreta orgia dum príncipe algures em Las Vegas, ou o traje ainda mais discreto (ao ponto de não cobrir os seios) de uma princesa passeando em local privado. Embora menores, estes pequenos sucessos, captados por uma legião de "jornalistas" especializados, abastece a indústria do tablóide, dá emprego a muita gente, e mantém a marca sempre viva. Mas de vez em quando há um acontecimento maior: um casamento, um batizado, um funeral, um divórcio. Uma simples gravidez já entra nessa categoria de eventos. Foi o que aconteceu agora com Kate, a tal princesa outrora captada à distância de seios (reais) nus. A comoção apoderou-se de todos os consumidores da marca. A indústria do tablóide mobilizou-se. É realmente um achado: não é um acontecimento instantâneo ou de um dia, vai durar 9 meses e desembocar em sucessos posteriores (batizado, etc.). O escrutínio já começou: os primeiros enjoos da real grávida, a ida ao hospital. Tanta coisa que ainda virá... A marca está de parabéns.
Apenas um contratempo, se o é: a morte da enfermeira indiana que respondeu a um falso telefonema da rainha a pedir informações sobre o estado da grávida, na verdade um telefonema de "jornalistas" sem escrúpulos fazendo-se passar pela real senhora. Não podendo associar-se a morte ao telefonema, evidentemente, pelo menos numa relação de causa/efeito, o recurso a esse estratagema para obter informações confirma, mais uma vez, o que é a "autorregulação" da comunicação social.
(Outro caso: o da fotografia do homem prestes a morrer no metro de Nova York, publicada pelo "New York Post" no dia 4 - ver notícia no "Público", do dia 7, p. 34).
Essa marca, para se manter viva, impõe uma permanente provisão de novos motivos para manter o interesse dos consumidores: são as exigências do mercado. E assim, quando faltam acontecimentos maiores, servem mesmo minudências triviais, como a discreta orgia dum príncipe algures em Las Vegas, ou o traje ainda mais discreto (ao ponto de não cobrir os seios) de uma princesa passeando em local privado. Embora menores, estes pequenos sucessos, captados por uma legião de "jornalistas" especializados, abastece a indústria do tablóide, dá emprego a muita gente, e mantém a marca sempre viva. Mas de vez em quando há um acontecimento maior: um casamento, um batizado, um funeral, um divórcio. Uma simples gravidez já entra nessa categoria de eventos. Foi o que aconteceu agora com Kate, a tal princesa outrora captada à distância de seios (reais) nus. A comoção apoderou-se de todos os consumidores da marca. A indústria do tablóide mobilizou-se. É realmente um achado: não é um acontecimento instantâneo ou de um dia, vai durar 9 meses e desembocar em sucessos posteriores (batizado, etc.). O escrutínio já começou: os primeiros enjoos da real grávida, a ida ao hospital. Tanta coisa que ainda virá... A marca está de parabéns.
Apenas um contratempo, se o é: a morte da enfermeira indiana que respondeu a um falso telefonema da rainha a pedir informações sobre o estado da grávida, na verdade um telefonema de "jornalistas" sem escrúpulos fazendo-se passar pela real senhora. Não podendo associar-se a morte ao telefonema, evidentemente, pelo menos numa relação de causa/efeito, o recurso a esse estratagema para obter informações confirma, mais uma vez, o que é a "autorregulação" da comunicação social.
(Outro caso: o da fotografia do homem prestes a morrer no metro de Nova York, publicada pelo "New York Post" no dia 4 - ver notícia no "Público", do dia 7, p. 34).