26 maio 2013

 

As despesas com a arrecadação de impostos


Deu-me para reler ao acaso certas passagens de Os Miseráveis, de Víctor Hugo, por um lado por causa da situação presente, que arrasta para a miséria, por opção política, milhares de pessoas,  do mesmo passo que arrasa uma boa fatia da classe média, e por outro, por causa do filme de Tom Hooper (o mesmo realizador de O Discurso do Rei), que passou recentemente nos cinemas.

Encontrei esta passagem que contém ensinamentos do romancista francês, que não era economista, mas parece saber mais do que os economistas da troika e que os economistas e financistas que têm planeado a política da austeridade que nos subjuga (transcrevo de uma edição antiga, em cinco volumes, da Livraria Chardron – Lello & Irmão, Lda., que adapto para a ortografia do Acordo Ortográfico de 1945):

 

É uma coisa que nunca falha. Quando a população sofre, quando falta o trabalho, quando é nulo o comércio, o contribuinte resiste ao imposto por penúria, não paga dentro dos prazos marcados, deixa-os mesmo passar, e o Estado faz grandes despesas para os obrigar ao pagamento das suas quotas respectivas. Quando, porém, abunda o trabalho, e o país é rico e feliz, paga-se o imposto sem violência e custa pouco ao Estado. Pode dizer-se que a miséria e a riqueza pública têm um termómetro infalível – as despesas feitas com a arrecadação dos impostos (Tomo I, Livro V, Cap.VII).

 

É claro que, no tempo de Victor Hugo, não havia os paraísos fiscais para os muito ricos, com que os governos não se têm, aliás, preocupado por aí além. Quanto ao resto, o texto é actual.





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