26 agosto 2013

 

Os fogos de Verão


Durante muitos anos a fio, indignei-me com os fogos, a devastação da floresta, a paisagem calcinada. Escrevi artigos sobre o tema em anos sucessivos, nos treze anos em que fui colaborador do Jornal de Notícias, e mesmo antes. Utilizei vários registos de escrita, desde o sério, em que meditava sobre possíveis soluções, ao irónico, ao sarcástico e ao satírico.

Participei em reuniões, na primeira metade dos anos oitenta, com várias autoridades (judiciais, policiais, autárquicas), em representação do Procurador-Geral Distrital, que delegou em mim essa tarefa. Já então se propunham soluções que continuam a ser as mesmas que se propõem trinta e tal anos depois: limpeza das matas no âmbito do serviço cívico, sistema coordenado de vigilância, reordenamento florestal, etc. O que é certo é que as soluções ficaram sempre no papel e os incêndios continuaram a devastar sistematicamente as nossas florestas, destruindo espécimes centenares em algumas das nossas serras mais emblemáticas.

Agora, já espero os fogos de Verão com a tranquilidade e a indiferença de quem se habituou a uma rotina. Os fogos são uma “inevitabilidade”, como disse há dias o ministro da Administração Interna. Pois é isso mesmo. Por isso, não me comovo nem me exalto. Os telejornais já não me tiram do lugar, nem me fazem levantar a cabeça, se estiver a ler qualquer coisa. As soluções que me chegam aos ouvidos, apontadas por qualquer responsável, fazem-me sorrir. A cantilena é a mesma: reordenamento da floresta, aumento das penas cominadas para os criminosos. Mas que criminosos? Os supostos incendiários? Os que, no exercício das suas competências e obrigações, privadas ou públicas, nunca fizeram nada para pôr cobro à situação?

Lérias! Afinal, isto é mesmo para arder, não é?

Só é pena é que haja pessoas que morrem, por um ainda existente ideal de abnegação.





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)