04 fevereiro 2014

 

Portugal corrupto numa Europa corrupta

Já falei aqui muitas vezes das limitações dos "inquéritos de perceção", que pretensamente visam conhecer a realidade das coisas através de "sondagens" à opinião pública. O inquérito hoje divulgado pelo Eurobarómetro é revelador do nível de (in)fiabilidade que merecem. Com efeito, à pergunta "A corrupção é um problema totalmente generalizado no país?", a resposta afirmativa média da UE foi de 76%! Ou seja, 3/4 dos europeus acham que a corrupção é generalizada. Mas a análise por país é ainda mais curiosa: tirando os países escandinavos e o Luxemburgo, onde a afirmativa não chega aos 50%, os restantes estão acima, e alguns dos considerados "virtuosos" bem acima. Assim, a Alemanha chega aos 59% (isto é, 59% dos alemães acham que a corrupção na mãe pátria alemã é totalmente generalizada), na Holanda 61%, na Inglaterra 64%, na Áustria 66%, na França 68%, e por aí fora... Mesmo os mais impolutos não ficam bem na foto de família: a Suécia com 44% (quem diria...), e o mais honrado de todos, a Dinamarca, fica pelos 20%, o que significa, repetindo, que 20% dos dinamarqueses acreditam que a corrupção é totalmente generalizada no país da Carlsberg... Mais interessante ainda é que na Inglaterra, apesar dos tais 64% de inquiridos convictos da corrupção generalizada, só 1% alguma vez se encontraram numa real situação de tentativa de corrupção... Os restantes 63% ficaram-se pela perceção... Em Portugal, a perceção é, como seria de esperar, muito elevada: 90% (algum português acredita na honestidade de outro português?). Mas entre a perceção e a realidade vai uma distância de difícil perceção... Não creio, sinceramente, que seja com sondagens, ainda que com a designação mais "científica" de "inquéritos de perceção", se avance um centímetro no combate à corrupção real.





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