06 maio 2014
O segredo do êxito
Como já era esperado, foi
decidido termos uma “saída limpa” do “programa de emergência” da “troika”. Tão
esperado, que até me parece que o facto nem é notícia e a decisão, nem
verdadeiramente é decisão, livre e autónoma, como deve ser uma decisão. Adaptando
o título célebre de um livro de Gabriel Garcia Márquez, que recentemente nos
abandonou para sempre, digamos que a tal notícia é a «crónica de uma limpeza
anunciada” e a decisão é, mais ou menos, a de quem nos queria ver pelas costas,
depois de termos sido submetidos a uma boa operação de “limpeza”.
No âmbito doméstico, o êxito da
barrela foi atribuído a todos nós, que suportámos estoicamente o enérgico
esfreganço com que, generosamente, nos limparam o “sebo” (ou as “gorduras”,
numa outra versão da linguagem tão densa de metáforas, que tem feito carreira
com grande sucesso).
No plano externo, vieram algumas excelências
dar-nos os parabéns por termos tão escrupulosamente cumprido o programa de “limpeza”
e mostrado ao mundo que o austero detergente empregue, com particular empenho europeu,
é uma marca que se recomenda.
Aconselham, no entanto, os nossos
parceiros que tenhamos prudência e, sobretudo, que não se abra mão das
conquistas alcançadas em matéria de limpeza, nomeadamente na área das pensões e
dos salários da função pública, e ainda que eliminemos os factores de rigidez
que permanecem na economia portuguesa, conforme se lê hoje no Público.
Com efeito, estes são os três
grandes vectores do êxito da limpeza: pensões, salários da função pública e a
rigidez que permanece na economia, ou seja, aquilo que impede o mercado de
trabalho de ser tão flexível como seria desejável, não sei se entendem.