01 maio 2014

 

Reposição


O Primeiro Ministro afirmou, recentemente, por várias vezes, inclusive nos debates com os partidos na Assembleia da República, que não mais se regressaria ao nível salarial de 2011.

Há dias, a propósito da apresentação do DEO (para quem não sabe:  Documento de Estratégia Orçamental. Laus Deo! Esta maldita linguagem das siglas!), a ministra das Finanças anunciou que os salários vão ser repostos até 2020. Neste jogo em que temos andado do diz hoje uma coisa e amanhã outra, nesta incerteza que se faz pairar sobre a cabeça dos portugueses, afirmando-se num dia o que vai ser negado no outro, ou vice-versa, até parece que a afirmação da ministra das Finanças é o contrário do que disse o PM e que há nisso um volte-face esperançoso, o que quadraria muito bem com a época de eleições que se avizinha e o regresso das promessas, que são o chupa-chupa que se dá aos eleitores. Os salários vão ser repostos.

Uma análise mais fria mostra, porém, que essa palavra – “reposição” – é mais um termo de engodo da chamada novilíngua. Na verdade, não se trata de uma reposição. Trata-se, muito simplesmente, da confirmação de que o que se perdeu nos salários, a título provisório (na linguagem da altura), ser afinal definitivo e, a partir de 2015 (segundo a promessa mais recente) ir-se aumentando o nível salarial de uma forma prefixada para cada ano, de forma que, em 2020, se fique a ganhar o mesmo que em 2011. Bonito, não é? Quantos anos de sonegação de salários é que isto representa?

 





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