16 março 2015

 

As palavras e o silêncio


Gostava de exprimir o meu horror em relação às vandálicas acções dos combatentes jihadistas do denominado Estado Islâmico (EI) no Iraque, saqueando e destruindo obras de arte milenares em Mossul  e Nimrod, cidades antiquíssimas, como Hatra, mas não encontro as palavras justas. Provavelmente estão fora do dicionário e mesmo para além de qualquer forma de expressão verbal. Selvajaria, actos bárbaros, actos hediondos, crimes abomináveis, crimes contra a humanidade. Palavras e expressões correctas, mas, todavia, insatisfatórias, escassas e banais.

Queria palavras que gritassem, que ferissem, que fossem facas como as que os jihadistas usam para degolar as suas inocentes vítimas, que fossem o equivalente do fogo destruidor que eles empregam para incinerar pessoas e cidades. Palavras que fossem tão chocantes, como o uso que eles fazem de crianças para praticarem actos criminosos.

Porém, não encontro tais palavras. Às vezes, penso que só o silêncio perante actos destes está à altura da terrível monstruosidade que eles exprimem.  E, no entanto, como diria Manuel António Pina, face à impotência das palavras,“Já não é possível dizer mais nada/mas também não é possível  ficar calado”. Não é reduzir-nos a um silêncio sufocante, paralisante, o que eles precisamente querem com o seu terrorismo?





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