21 abril 2015
A palavra e a coisa
Devolver até 2020 os salários
e vencimentos que foram cortados há anos atrás é, evidentemente, um eufemismo. Quando
forem repostos, esses salários e vencimentos não são os mesmos. Faltam os juros
das quantias subtraídas e as actualizações, que deveriam ter acompanhado a
subida do custo de vida. Portanto, na realidade, representam muito menos do que
aquilo que foi tirado e materializam uma degradação salarial, que foi, aliás, o
objectivo pretendido.
Falar em empréstimo,
como também já tem sido afirmado, é outro engodo. Um empréstimo ou mútuo (para
falar em termos jurídicos correctos) implica, pelo menos, a igualdade dos
contraentes e a vontade livre para contratar. Nem uma coisa nem outra
existiram. Se empréstimo houve, ele foi forçado, imposto por uma das partes à
outra, valendo-se a parte dominante da sua superioridade e da força coactiva
inerente à sua posição. A isso não se chama empréstimo.