20 abril 2015
Mare nostrum: a hipocrisia europeia
Desde há alguns anos que o Mediterrâneo se converteu num cemitério: pelo menos desde que foram fechadas as fronteiras terrestres da fortaleza Europa. Os naufrágios tornaram-se frequentes, num ritmo imparável. Os migrantes começaram a chegar em catadupa à pequena ilha de Lampedusa. A Itália preocupou-se, não podia sozinha enfrentar um movimento migratório de tal envergadura. Por isso, foi criado o programa "Mare nostrum", com suporte financeiro europeu, essencialmente de caráter socorrista. Mas ficava muito caro. Afinal, como disse perspicazmente Cameron, o programa de socorro aos náufragos acabava por estimular a migração para a Eutropa, precisamente o que a Europs não queria. Ou seja, a Europa pagava e ainda ficava com os "invasores" dentro de casa... E assim, foi liquidado o tal programa. Um claro exemplo da "Europa dos valores"... Agora, com este último naufrágio, de dimensão desmedida, a Europa sente alguns "remorsos" (será mesmo?): foi anunciada uma cimeira europeia urgente para encontrar analisar o "problema" e encontrar "soluções". Mas alguma coisa se pode esperar de realmente novo e eficaz? Não tem Cameron eleições à porta, não seria um suicídio aceitar uma política de imigração diferente? E a Alemanha, que não gosta nada do sul da Europa, vai gastar dinheiro com o sul do sul? E, no entanto, a Europa é a maior responsável por esta onda interminável de migração. Não só pela colonização de África, mas, bem mais recentemente, pela "intervenção" na Líbia (missão "humanitária", lembram-se?), no desencadeamento da guerra civil na Síria, na venda de armas às duas partes nas infindáveis guerras civis que percorrem o continente africano, no apoio aos governos corruptos e tirânicos, inimigos dos seus povos, mas "amigos" do Ocidente... Os que vêm nas barcaças parecem sobreviventes de Auschwitz e é de facto um verdadeiro genocídio que eles e os povos a que pertencem vêm sofrendo. Fugidos ao inferno onde vivem, acabam no fundo do mar ou embatendo nos muros ou no arame farpado das fronteiras europeias. A Europa agora chora lágrimas de crocodilo. Por quanto tempo?