03 outubro 2015

 

25 anos de Alemanha reunificada

Passam hoje 25 anos sobre a reunificação da Alemanha. "Reunificação" é um eufemismo, porque o que aconteceu na realidade foi pura e simplesmente a anexação da RDA pela RFA, que nem sequer mudou de nome, como não mudou de constituição, nem necessidade teve de "readerir" à UE... Mas a nova Alemanha anunciava-se pacífica, trabalhadora, motor económico e político, a par da França, da unificação europeia. Finalmente os europeus tinham a Alemanha europeia a que tinham direito, depois de terem conhecido (e de que maneira) a Alemanha "uber alles"... Que balanço podemos fazer destes 25 anos de Alemanha "europeia"? Um desastre quase completo. Cumprida numa década a transformação económico-social da ex-RDA, ou seja, arrumada a casa, a Alemanha virou-se para a Europa. Começou por mandar para o sótão a cooperação especial com a França, o famoso "motor franco-alemão". A capital deixou de ser a provinciana Bonn, à beira da fronteira francesa, passou a ser a imperial Berlim. Os tratados europeus foram revistos, dando à Alemanha uma representação superior em todos os órgãos, em consequência da maior dimensão populacional. A Alemanha foi construindo rápida e firmemente uma centralidade política e institucional nunca antes conhecida na UE por nenhum país. O euro, que lhe tinha sido "imposto" por Mitterrand para moderar a força do marco, acabou rapidamente por funcionar a favor da Alemanha, senhora da economia mais robusta, movendo-se agora num espaço muito maior e concorrendo com economias frágeis. Com a crise das "dívidas soberanas", o euro passou a ser uma prisão para os países pobres e um maná para a Alemanha, sem problemas de financiamento a juros módicos. A crise das dívidas foi administrada imperialmente pela Alemanha, acolitada por alguns países satélites (Holanda, Finlândia, sobretudo). A capital da UE é formalmente Bruxelas, mas é por Berlim que os necessitados passam antes das decisões importantes para pedirem a benevolência alemã. Essa benevolência paga-se muito caro, paga-se com a submissão. Qualquer tentativa de rebelião é severamente punida, sendo os rebeldes expostos no pelourinho e obrigados a jurar publicamente cumprir tudo o que lhes for imposto. (Tsipras explicará isto melhor) É esta a Alemanha 25 anos depois. Não perdeu muito tempo a impor a sua hegemonia, hoje "respeitada" sem contestação (a Inglaterra não a contesta; incapaz de a contestar, quer sair). A Alemanha não gosta de perder tempo. Logo que estão reunidas ou que lhe parecem reunidas as condições para a consolidação da hegemonia passa ao ataque: as três guerras que desencadeou na Europa, de 1870 a 1939, atestam esse frenesim. Agora, já não estamos no tempo da bota ferrada (por enquanto, mas os apetites por intervir em certos "teatros de operações" como a Ucrânia, não são tranquilizadores). Há outras e mais baratas (e afinal mais eficazes) formas de hegemonia... Mas será essa hegemonia suportável a prazo pelos outros países europeus? Em resumo, será a Alemanha reunificada compatível com a UE, entendida como comunidade de nações?





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