13 outubro 2015

 

Que alianças?


Nesta intensa campanha ideológica que, neste período pós-eleitoral tem sido movida para agregar o PS ora à direita, ora à esquerda, não percebo as razões por que o PS se há-de aliar preferencialmente à coligação PSD/CDS. Elas filiam-se, de um modo geral, numa pressuposta maior identidade do PS com os partidos da coligação, do que com os partidos à sua esquerda.

Ora, em primeiro lugar, o PS tem uma raiz social-democrata e nenhum dos partidos da coligação tem essa vertente. O PSD denomina-se social-democrata, mas o nome não corresponde actualmente nem à doutrina, nem à prática. E tanto assim é, que vários notáveis desse partido criticaram, às vezes violentamente, a política por ele seguida como sendo oposta à social-democracia, tendo inclusive alguns deles abandonado essa formação partidária. Quanto ao CDS, não tem nada a ver com a social-democracia, sendo até duvidoso que respeite uma linha democrata-cristã. Ambos eles são, neste momento, partidos de direita, e de uma direita radical.

A política que levaram a cabo foi uma política de destruição sistemática dos pilares que foram sendo construídos, ao longo de décadas, para suportarem um Estado empenhado na defesa do mais elementar programa de uma democracia social, em prol da restauração de um capitalismo devorador dos mais emblemáticos direitos sociais, incluindo a desarticulação de toda a legislação protectora das relações laborais. Aproveitaram a situação de crise, provocada pelo capitalismo financeiro internacional, para levarem o mais longe possível a investida contra os vários sistemas protectivos das classes mais débeis, como sucedeu, por exemplo, com a lei do inquilinato, e procederam à alienação célere e, muitas vezes, atabalhoada, das empresas do sector público, algumas de alcance estratégico inegável e nem sempre deficitárias; antes pelo contrário, algumas dessas empresas eram lucrativas.

Neste contexto, é caso para perguntar se o PS se identifica com essa política. Creio que a sua prática oposicionista, nestes últimos anos, a sua ideologia e a campanha eleitoral desmentem, na sua substância, o que foi feito nestes últimos quatro anos, aproximando-o mais da ala esquerda, do que da ala direita, o que foi, aliás, reconhecido pelo próprio António Costa na noite das eleições.

Será, então, a União Europeia, o respeito pelos tratados internacionais, pela Nato, a questão da renegociação da dívida que aproximam o PS da coligação, mais do que dos partidos à sua esquerda?

Quanto à União Europeia, acho que o PS, opondo-se fundamentalmente à política de austeridade que tem sido seguida e à necessidade de inverter essa política, rejeita a política da troika  e não está em consonância com as principais autoridades europeias e internacionais que a advogam e a impõem contra a vontade dos povos. Por conseguinte, em coerência, terá de desenvolver esforços para a definição de uma outra política europeia e para o retorno da União aos seus princípios fundadores, o que não será o caso dos partidos da coligação.

E, em relação à renegociação da dívida, mais do que se opor a ela, creio que o PS achará que não existem ainda condições para se encarar a situação de uma forma viável. De certa maneira, os partidos à sua esquerda (BE e CDU), também o entenderão, uma vez que põem de parte essa pretensão, como, aliás sucede com os tratados e responsabilidades decorrentes das obrigações internacionais.

Relativamente à Nato, nem vale a pena falar do problema, porque não se coloca nenhuma questão fundamental, de momento, por parte dos partidos à esquerda do PS, que brigue com a permanência de Portugal nessa organização. Apenas uma questão ideológica, que não deve preocupar ninguém nos próximos tempos e, nomeadamente, no quadro de uma legislatura. Nem os referidos partidos fazem questão, num acordo partidário, de fazer qualquer exigência quanto a ela.





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