08 outubro 2015

 

Ainda o "arco da governação"

A direita estava eufórica na noite das eleições: tinha ganho, ia formar governo, a maioria relativa era um pormenor relativamente insignificante, pois o "arco da governação" iria sempre impedir o PS de formar governo com o apoio à esquerda... Mas as coisas estão a complicar-se, pois parece haver disponibilidade real da esquerda para apoiar um governo do PS, ainda que minoritário... A ampla frente dos comentadores encartados de direita, preenchendo quase todo o espaço televisivo, está nervosa: seria uma aberração um governo de esquerda, seria uma violação dos compromissos de Portugal com a Europa, com a NATO, seria uma injúria afinal aos nossos amigos alemães, que tanto nos têm ajudado... O "arco da governação" exclui qualquer acordo do PS com a sua esquerda e ponto final! Ora, é preciso recordar que este famoso arco não está previsto na Constituição, nem em qualquer diploma legislativo, que se trata de uma criação política de Mário Soares nos anos 70, com o fim confessado de isolar o PCP, de "combater o comunismo" em Portugal. Estava-se então no auge da guerra fria e o arco é o produto mais acabado da guerra fria em Portugal. Entretanto, a União Soviética deixou de existir (graças à Nossa Senhora de Fátima e aos seus pastorinhos), a guerra fria acabou, não há qualquer perigo de instalação em Portugal de um "regime soviético"... Para quê então o "arco"? O próprio Mário Soares, nos momentos de maior lucidez, já reconheceu o anacronismo da sua criação. O certo é que o PS entranhou de tal forma o "arco" que parece um sacrilégio esquecê-lo. A maioria dos "notáveis" do PS certamente preferirá ir para a oposição a formar um governo com o apoio da esquerda... António Costa dificilmente seguirá outro caminho. Ele é afinal um produto acabado do PS anticomunista tal como foi moldado por Mário Soares nos anos 70. O "arco" é um dogma para o PS, é um tabu, é um ídolo num altar. António Costa, mesmo no caso de querer derrubar o ídolo (o que é mais que duvidoso) não teria neste momento sequer forças para o fazer, pois os resultados eleitorais do PS foram interpretados como "derrota". Possivelmente, ele está a fazer algum bluff, ao encontrar-se com a esquerda, para melhor negociar com a direita... Oxalá me engane...





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