03 maio 2016
Quem anda a reverter o quê?
Muito têm os
representantes da política dos últimos quatro anos verberado com acrimónia as reversões a que este governo tem
procedido. Mas que outro rumo poderiam as coisas tomar, senão o de se reverter
o que foi feito? Na verdade, o que eles fizeram, uma vez aos comandos da
governação, foi aproveitarem-se dessa circunstância para mudarem de cima abaixo
a sociedade portuguesa, aos níveis económico, social, laboral e político,
retirando peso, influência e poder às classes médias e aos trabalhadores, transferindo
para o capital rendimentos que sonegaram a essas classes e aos beneficiários de
pensões e prestações sociais, privatizando açodadamente empresas do sector
público e de carácter estratégico, alienando património a estrangeiros, pondo
em causa o Estado social. Ou seja: não fizeram outra coisa, senão reverter o que tinha sido construído e
se fora solidificando, com resistências, ao longo de décadas. Foi a primeira
tentativa radical de inflectir tudo o que se conquistara e remanescera do “25
de Abril”. Uma tentativa de liquidação total da sua herança e do que dela
subsistira na Constituição.
Foram medidas
estruturais as que tomaram? Se o foram, o sentido dessas medidas era o de uma
desestruturação do que estava estruturado, ou uma estruturação contrária ao
Estado de direito social plasmado no texto constitucional.
Admiram-se, então, de
não se respeitar o que eles andaram a destruir?