04 julho 2016
O fantasma das sanções
Os representantes do anterior
governo andam aí numa azáfama a tentar convencer os portugueses de que, a virem
as sanções de Bruxelas, elas devem atribuir-se a culpa deste governo e não ao
seu. É fantástico este golpe de rins para virar as coisas ao contrário. As
sanções seriam para punir o exercício do executivo durante os anos de
2013-2015, por não ter cumprido o abaixamento do défice para 3%; portanto o
governo anterior.
Porém, o que os
anteriores governantes argumentam agora é que o governo actual é responsável,
por não ter dado continuidade às medidas por eles implementadas, o que teria
acarretado diminuição de credibilidade do país, face aos burocratas de Bruxelas
e aos investidores. Este golpe acrobático parece corresponder à brilhante ideia
de várias das luminárias do colégio de comissários (comissários de quem?) que
pretendem inflectir o sentido da punição, virando-a contra o actual governo,
que não é da sua simpatia, sob pretexto de não tomar as medidas necessárias
para corrigir o défice, ou, por outras palavras, por não aplicar as políticas
de austeridade que eles querem ver seguidas. Por outras palavras ainda:
trata-se de uma forma de interferir na governação do país, impondo um programa
que não é aquele com que o governo actual, com suporte parlamentar baseado num
acordo de partidos, se propôs governar. Intervenção tanto mais inadmissível, quanto,
como disse hoje o presidente da República, este governo não tem ainda tempo
suficiente para uma avaliação fundada da sua actividade e, até ao momento, nada
justifica qualquer sancionamento. Para estes cavalheiros não importa o programa
de um governo, nem, em bom rigor, a vontade de um povo; o que interessa é que o
governo, seja ele qual for, cumpra o programa deles, a ideologia que eles
defendem. O anterior governo não passou de um mero executante das ordens desses
senhores; este que está foge às regras: logo, tem de ser punido, ainda que seja
só com um simples puxão de orelhas, mas que tem suficiente carga perversa, pois
nesse puxão de orelhas está uma desqualificação que conta internacionalmente.
É incrível a obstinação
destes indivíduos em fazer deitar por terra a tal casa comum europeia.