10 agosto 2016

 

A tragédia dos nossos verões


O fogo é a tragédia dos nossos verões.

Durante anos, escrevi sistematicamente sobre essa tragédia. Poderia fazer uma colectânea de artigos dedicados ao tema. Indignava-me. Depois, passei a desinteressar-me, ou seja, conformei-me com a situação. Porque uma pessoa habitua-se e o hábito converte os acontecimentos numa espécie de fatalidade. Já sabemos que, quando o calor aperta, vêm os fogos. Fatalmente. Já temos quarenta anos de fogos mais ou menos violentos. Ora, essa é uma outra tragédia: a naturalização dos incêndios.

Ontem, o Público, em editorial, dizia que o problema é político. Estou em crer que sim. Que, apesar da experiência acumulada, dos estudos e dos diagnósticos realizados, dos meios que nos dizem, anualmente, serem os mais aptos, da aparente mobilização de esforços para, pelo menos, se circunscrever ao mínimo o efeito destruidor dos fogos, nada disso tem resultado. Somos o país com mais incêndios da Europa, como disse, ainda hoje, num dos telejornais, um especialista. Desgraçadamente, somos os primeiros em tudo ou quase tudo o que há de pior. Porque não somos capazes de atacar com competência, com eficiência, com sistema, os problemas que nos afligem. Mas é isto que nos faz desacreditar da nossa capacidade. Nos fogos, como no resto. Mesmo que os responsáveis nos digam que podemos estar descansados. E isto é outra tragédia.





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