15 setembro 2016

 

Mais um imposto


 

À conta do projectado aumento de imposto para quem for proprietário de imóveis de valor superior a quinhentos mil euros, aquilo que não se tem dito! Logo pela manhã, a jornalista de temas económicos Helena Garrido, na qualidade de comentadora da Antena 1, veio dizer do seu desagrado relativamente a mais um imposto – mais um imposto! – no sobrecarregado universo de impostos que já temos, e inventariou os efeitos nefastos de tal medida: desinvestimento no sector, quebra da produção, menos postos de trabalho, reduzido impacto na receita, dado ser pouco alargado o universo de pessoas atingidas.  Só não se percebe é a preocupação com os postos de trabalho, atendendo ao facto de ser marginal o sector produtivo em causa.

Ao longo do dia, um estendal de declarações contra uma nova subida de impostos: do presidente da associação dos proprietários; de um representante da construção imobiliária, de políticos do PSD e do CDS, salientando a natureza ideológica da medida e defendendo os interesses da classe média, novamente atingida (e que classe média!) e até de um ouvinte que se disse votar à esquerda, mas proclamando-se revoltado contra uma tão atroz medida, porque, afinal, se um cidadão tinha amealhado uns cobres e adquirido património, era inconcebível que o Estado caísse em cima dele de uma forma persecutória, e ainda outro, que veio lembrar muito oportunamente que um indivíduo podia ser dono de património e não ter dinheiro para pagar o imposto.

Para coroar todo este rosário de misérias, lá veio a Dra. Teodora Cardoso, mui digna presidente de um organismo chamado UTAO, puxar as orelhas mais uma vez ao governo, porque não se pode aumentar impostos de 6 em 6 meses, porque isso cria instabilidade e afasta os investidores (Mais uma vez os “investidores”, essas muito sensíveis entidades que se assustam à mais pequenina coisa e, quando mal nos precatamos, já nos estão a virar as costas).

Em conclusão: só há uma forma de ataque a interesses de classe (chamemos-lhe assim), que não suscita apreensão nem revolta: quando se trata de reduzir salários, cortar pensões, suprimir prestações sociais. Helena Garrido e Teodora Cardoso defenderam-no no passado recente. E continuam a defendê-lo, usando uma linguagem técnica: a despesa do Estado. É a despesa do Estado que continua a aumentar e o investimento a diminuir. Só há um certo tipo de património que pode ser atacado sem problemas para essas pessoas: o das classes médias que não investem em casas de quinhentos mil euros para cima, e que, tendo adquirido as suas casas à custa de empréstimos bancários que não puderam aguentar, quando lhes cortaram os salários e outros rendimentos, tiveram que suportar as execuções movidas pelos mesmos bancos e ainda tiveram que ficar a pagar o que a execução, feita por um preço miserável, não cobriu. È de pasmar!

 





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