10 outubro 2018

 

O novo feminismo


Ainda bem que Teresa Rita Lopes e Raquel Varela escreveram ontem, no Público (“Luta de sexos, o novo feminismo”) sobre essa vaga de histeria feminista que está a desvirtuar um feminismo assente na justa luta das mulheres pelos seus direitos, pela conquista da sua autonomia e de um espaço de intervenção em que elas se assumam e sejam reconhecidas na plenitude das suas capacidades e competências, livres de qualquer subordinação ou tutela machistas, e não numa luta de sexos e de ódios vesgos contra os homens, quando não de meros oportunismos, que não visam senão o poder e o dinheiro, os dois pilares em que sempre assentou o domínio masculino.
No artigo escrito a duas mãos pelas referidas autoras, só me provocou dúvidas a alusão que Teresa Rita Lopes faz às manifestações de mulheres brasileiras contra Bolsonaro, questionando-se se não serão contraproducentes, “aparecendo como manifestações desse papão comunista brandido pelos seus apoiantes” (dele, Bolsonaro). Não acho que essas manifestações seja contraproducentes, nem que a sua leitura possa ser geralmente interpretada de outro modo que não seja uma reacção forte contra as posições machistas (talvez mesmo misógenas) e violentamente agressivas contra as mulheres assumidas pelo candidato de extrema-direita, como quando disse que uma sua opositora não merecia ser violada, porque “era muito feia”.
De resto, o artigo é um passo no sentido da desmistificação desse tal “novo feminismo”, como o apelidam as autoras (duvido também que seja “um novo feminismo”) e a que muitos homens (e mulheres, evidentemente, mas refiro-me particularmente a muitas posições masculinas) parecem dar caução, com aquele vago sentimento de culpabilização ou receio de se não mostrarem alinhados com a causa das mulheres.
Estamos a viver um tempo de perigosos maniqueismos, seja na política, seja a nível social, cultural e simbólico, dos quais estas manifestações pretensamente feministas fazem parte e esta deriva para um crescendo autoritário, repressivo e antidemocrático, no qual se inscrevem o chamado “populismo político” e o “populismo penal”, advogando a redução drástica dos direitos fundamentais dos arguidos, o agravamento das penas de prisão e a criminalização indiscriminada. É tempo de acordar, antes que seja tarde.






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