22 setembro 2018

 

A Procuradora-Geral da República




Já aqui reconheci a alta eficiência, a sobriedade e a postura de dignidade com que a Dra. Joana Marques Vidal tem exercido o cargo de Procuradora-Geral da República. Ficará certamente como uma das figuras marcantes da história do Ministério Público da era democrática e a que levou essa magistratura a um patamar de prestígio nunca antes alcançado. Todavia, acho que a sua substituição, no final do mandato, por uma outra magistrada do topo da carreira do Ministério Público (e nada impunha que fosse dessa carreira, nem da magistratura judicial, nem tão pouco que fosse jurista) muito próxima do perfil da actual ocupante do cargo e dando, à partida, garantias de prosseguir a linha de isenção e competência que vinha sendo trilhada, foi uma boa saída do poder político (no caso, o Governo e o presidente da República, competindo àquele a indicação e a este a nomeação).
Uma boa saída por duas razões:
1.ª A enorme pressão que vinha sendo exercida nos órgãos de comunicação social com vista à recondução da actual ocupante do cargo e à retirada de margem de manobra de quem, por incumbência constitucional, tem o poder de decidir, pressão que, se tinha na sua base o bom fundamento do desempenho exemplar da Dra. Joana Marques Vidal, se confundiu, de forma explícita ou implícita, com a partidarização do cargo. E, para além disso, a verdadeira mitologia que foi sendo construída, como se a Dra. Joana Marques Vidal tivesse partido do grau zero ou tivesse sido uma criação ex nihilo, esquecendo-se ou ignorando-se a acção relevante e fundadora, em condições muito difíceis, se não mesmo adversas, de outros procuradores-gerais, com destaque para a acção pioneira do Dr. Cunha Rodrigues.
2.ª A reafirmação do bom princípio da não renovação do mandato, pese embora a hoje tão proclamada por toda a gente (jurista ou não jurista) ausência de obstáculos constitucionais à renovação. Até para evitar partidarizações do cargo, como estava a acontecer.
A Dra. Joana Marques Vidal sai prestigiada e, com a renovação do mandato, poderiam as coisas não lhe correr tão bem. Assim, mantém o seu estado de graça.






<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)